PRAGA

POEMA:

Que amarga praga da vida

Me jogue ao relento, como o mar cospe suas ondas

E que a fúria do ar,

Tal qual a do mar aos cuspir espumas

Me lance ao vento

Sem dó nem lamento

Como se o moinho da ansiedade de viver

Esquecendo a praga que eu mesmo a mim roguei

Faça de mim, em cada giro que dá

Fazer-me voltar onde repousa meu mais amargo ser

Me acalmando num simples sopro de paz

Ora, são tormentos espancados pelo céu

Que quero espancando minha cara e a minha pele

E o meu mais desnorteado humor

Já que cada vez mais voraz, quero meu sentimento

Girando com a mesma intensidade da força do moinho

Voltando ao mesmo marco zero do meu amor

É com a mesma insanidade das ondas e da velocidade do ar

Fazendo tornados e redemoinhos

Que conseguirei surrar minha saudade por entre o matagal verde

Correndo alguns quilômetros por hora ao teu seio,

Tornando simples carinhos, num ninho de flagelos

Quando nossa pele foge uma da outra

Fugindo pra bem perto do que anseio

É quando se torna triste ver o moinho

Por trás dele, nuvens escuras

E por trás das nuvens

Ver minguar as lágrimas da lua minguante

É quando paro o carro, subo as escadas,

Encosto o peito na varanda

Suspiro e sorrio com felicidade, sem mostrar os dentes

Assim só pra mim

Com aquele contentamento de canto de boca...

Quer uma praga maior que essa?

Pois é, toda felicidade de quem busca o amor

Não é nada mais, nada menos

Que uma peste de esperanças aprisionada

Na aflição da solidão...

Nada mais, nada menos

Que um afã de quem teme morrer solitário

Nada mais, nada menos

Que o medo de sair delirando sozinho pelos cantos de casa!