E POR FALAR EM LIBERDADE

E POR FALAR EM LIBERDADE...

crônica lírica

Segunda pela manhã. O trânsito estava pior que o dia anterior. Não que eu goste de ficar esperando ver o movimento dos carros, não que eu prefira ficar observando o ultimo passageiro que ficou em pé porque não tinha cadeira para sentar. Até que seria bom se nesse exato momento eu pudesse sentar numa poltrona com ar condicionado, vendo o moço de terno branco passar e cumprimentar-me num carro do ano, novinho em folha... Isso seria impossível! Falar comigo? Um pobre e humilde passageiro de coletivo? Que autoridade eu exerceria sobre esse digníssimo homem de terno? Sabem, as pessoas gostam de autoritarismo, gostam de serem mandadas, sim, de sentirem-se dominadas pelo poder, pela fama, simplesmente para que elas possam tornar-se bem pequenas, infelizes, incapazes de tomarem atitudes corretas, mesmo que o mundo desabe sobre elas, incapazes de moverem o indicador, tudo porque têm medo de mudanças e por isso se acovardam repetindo sempre os mesmos erros. A mesma coisa todo ano, os mesmos votos nas mesmas urnas, nas mesmas pessoas, nas mesmas cidades e ficam perdurando por toda a vida a mesma falta de raciocínio com o mesmo poder exacerbado. Elas não se sentem totalmente libertas para optar, para escolher, para progredir e até quem sabe compactuar com aquela velha chata que não concorda com o novo preço do feijão,mas que nunca reclama ou se identifica para autoridades competentes, que se escusa sempre a conhecer o outro lado, os seus permanentes e insondáveis direitos, é sim, e o único direito que funciona é o de ficarmos calados, porque não adianta falar, assim pensamos e finalizamos até com um sentimento de culpa, sem tentar mudar a nossa história.

Perdemos uma boa parte da vida, lamentando até pelo cachorro que late na rua, por causa do jornaleiro que se esqueceu de entregar o jornal, por causa da sirene com defeito, pelo preço alto e o consumo de luz que gastamos... E esquecemo-nos das pequenas coisas que poderiam ser cultivadas: do vizinho machucado por uma ofensa que falamos, pela grosseria de não abraçar o filho quando chega da escola, pela palavra que não foi dita na hora certa, pela mensagem de carinho que nunca conseguimos proferir porque nos emocionamos e perdemos a vida toda só lamentando ou lembrando-nos de um passado feliz. E será que fomos mesmos felizes? O que deveria mais tocar em nosso fantasiado coração era a fútil maneira de vivermos fingindo que tudo vai bem, e quando alguém faz esta pergunta estamos automaticamente condicionados a dizer: - Vai tudo bem, obrigado! Às vezes reflito nessa facilidade como pouso forçado, mas penso principalmente no salário bem pequeno, tão inofensivo, esse não faz nada, não atinge o alvo, pelo contrário, desvia-nos sempre da nossa boa intenção: A de pagar todas nossas dividas, sem precisar ser ameaçado pelo órgão de cobranças, sem ser molestado e ter que suportar o cobrador na sua porta. O que não faz a avareza, digo... A falta de cédulas! Mas... Poderia ser muito pior; olhemos não muito longe daqui aquelas crianças na África morrendo por falta de alimento, enquanto muitos espalitam os dentes porque acabaram de deliciar-se com empadas e guloseimas que nem sei o nome. O que seria do nosso país se ainda devêssemos tanto dinheiro? Ufa! Que grande sufoco saímos! E já não ta tudo bem? E a saúde, como está? Não que eu precise relatar meu quadro clínico e falar aquelas palavras difíceis que o médico declarou-me, mas falta de saúde não se refere somente a dores ou reumatismo sem fim, mas ao meu precioso bem estar social... E esse vai bem... Ou mal? Tudo o que desejamos é a nossa segurança em evidência... Mas olhe em sua volta! Temos um cenário de dar dó... As nossas crianças ameaçadas por pessoas doentes e desconectadas da realidade... Como posso dizer que estamos seguros? Não, eu não quero falar mais nada porque cada palavra minha soará como suspeito, e eu sou simplesmente uma pessoa que gosta de escrever e só questiona quando é pra questionar.

É muito bom ser feliz e poder abraçar o desconhecido e dizer que a vida é boa, poder caminhar de braços abertos e agradecer a Deus pelo dia, pela vida, por todos os seus benefícios, poder ter o livre arbítrio para escolher... Mas não, ficamos inertes a tudo que temos direito, vivemos pouco porque poderíamos mais viver, com liberdade, com prazer de sermos nós mesmos. Usufruindo das coisas boas e por que não tomamos as asas da liberdade e corremos atrás de nossos sonhos?

ARTESGS
Enviado por ARTESGS em 09/01/2012
Código do texto: T3430441