O babador de ovos
Lambia um ovo sem babar o outro. E a perícia era tanta que, rápido como um Corisco, ascendeu ao posto mais elevado, abaixo apenas dos bagos que lhe adoçavam a boca. Assim, alerta e obediente, viu na subserviência cega a melhor maneira de enxergar a vida.
Guindado à condição de "chefe", passou a ter desprezo por valores como personalidade, caráter e moralidade, o que é uma atitude indispensável para os que se propõem ao cargo de ordenhador dos bagos alheios. Sentia orgulho disso. Como para qualquer puxa-saco, os fins justificam os meios, lema que qualquer mau-caráter traz em sua cartilha.
O verdadeiro puxa-saco tem um sintoma inconfundível: não discute as decisões superiores e nem concorda com as opiniões dos que, na hierarquia, estão abaixo dele. É uma espécie de colonizado precedido pela imagem do colonizador.
Todo puxa-saco tem uma claque composta por pessoas medíocres que cultivam a covardia como forma de garantirem seus empregos. O dono do saco gosta disso a que chama, cinicamente, de profissionalismo.
Pois é, chupava um ovo sem babar o outro, e assim será até o final dos tempos. Pode até mudar os bagos, mas a boca será a mesma, pois para isso nasceu.
Aldo Guerra
Janeiro/ 2012