O velho, o menino e o burro
Por uma estrada de terra seguiam montados num burrico um homem idoso e seu netinho. Assim que os viu, da sombra de uma arvore onde descansava, à beira do caminho, comentou um lavrador: “ - Que falta de consideração. Obrigado a carregar tanto peso, o burrinho vai morrer. Não percebem a judiação que fazem com o pobre bicho?”. “ - O homem pode ter razão”, concordou o velho. “Vamos mudar: eu desço e vou a pé, você continua montado. Você pesa menos”. Desmontou e se pôs a caminhar ao lado do neto.
Não demorou muito, ouviram opinião diferente. Do meio de um grupo reunido à frente de uma venda alguém falou alto: “ - Como as coisas estão mudadas. Não existe mais respeito pelos idosos. O garoto forte vai a cavalo; o velho, que trabalhou a vida inteira, vai a pé. Não devia ser o contrário? O mundo está mesmo de pernas pro ar”. “ - Melhor você descer”, o avô decidiu. “Quem sabe, seja mesmo mais certo você ir a pé. Você é novo, aguenta caminhar melhor do que eu”. Inverteram as posições.
Vencido mais um trecho de estrada, cruzaram com um cavaleiro, que não perdeu a chance de manifestar sua opinião. Lá veio novo palpite: “ - Onde está o amor às crianças? Antigamente eram carregadas nos ombros; hoje, nem no lombo de um burro. O menino frágil anda a pé; o homem forte vai montado, todo tranquilo”. O avô embasbacou. O que faltava ainda experimentar? Desmontou e disse ao menino: “ - Vamos a pé nós três. Assim, ninguém vai mais criticar a gente”.
Não tinham ainda avançado duzentos metros, quando se encontraram com outro, que observou: “ - Meu Deus, como tem babaca neste mundo. Duas pessoas a pé, puxando um burro: por que não montam? Animal não foi feito pra carregar gente? Pelo visto, não é um, são três burros”. O velho estacou. Irritado, concluiu: “ - Sei o que estão querendo, filho. Vamos nós dois carregar o burro nas costas. Assim, nos deixarão em paz”.
A historinha é conhecida. A lição que ela ensina, no entanto, parece que ainda não aprendemos. Ou não mostramos suficiente interesse de colocá-la em prática.
Costuma-se dizer que nem Jesus Cristo conseguiu agradar a todos. Ainda assim, nos preocupamos com a opinião dos outros. Desde crianças, os filhos escutam dos pais: “Não faça isso. Imagine o que os outros vão pensar. O que vão dizer?”. Criam, dessa maneira, a precaução de prestar conta dos próprios atos a quem não tem autoridade para exigi-la.
Que interessa conhecer a opinião dos outros sobre nós? Não é dever dos pais – esse, sim, irrecusável – transmitir valores verdadeiros, pouco importando o julgamento dos que vivem ao seu redor?
Preocupem-se em plantar no coração dos filhos convicções e práticas conformes à vontade de Deus. Ensinem princípios que reflitam, quanto possível à fragilidade humana, a perfeição da Justiça, da Verdade e do Bem.
Só a Deus e à consciência bem formada devemos a obrigação de prestar contas do nosso ser, pensar e agir. O resto não passa disso mesmo, de resto. Não tem nenhum valor.