TEM DIAS QUE A GENTE...
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Por Carlos Sena

 
Tem dias que a “casa cai”; que a “araruta vira mingau”; que a gente mostra “com quantos paus se faz um cangalha”; tem dias que a gente quer mostrar que nem todo pingo é letra, que quem tem telhado de vidro deve jogar pedras no dos outros; tem dias que a gente não quer saber se “para um bom entendedor meia palavra basta”; tem dias que a gente não só chuta o pau da barraca, mas o tamborete, a caixa de isopor e quem mais estiver por perto; tem dias que a gente não quer saber se a “ficha não caiu”, se a puta não pariu, se quem foi que te viu. Tem dias que a gente não quer saber se a TPM está ativa, nem o que existe do outro lado depois do equador; a gente, muitas vezes, também não quer saber se a fera está ferida, se o urubu tem comida ou se está com raiva do boi. Tem dias também que a gente quer matar a cobra e mostrar a “cobra” morta. Tem dias ainda que a gente nem cala e tudo consente e que teme sem dever e, devendo não paga. Tem dias que a gente desiste de conviver com o errado enquanto o certo não chega; desiste de sempre compreender para ser compreendido; de querer torcer o pepino quando menino. Tem dias que a gente quer mesmo o sol e a peneira para ver se vale a pena filtrar um com o outro. Tem dias ainda que a gente cansa de ouvir essa história de levar um tapa na cara e dar a outra banda pra bufete. A gente cansa, igualmente, de ouvir dizer que “não se faz omelete sem quebrar os ovos”, da mesma forma que a gente cansa de correr “atrás do prejuízo”... Tem dias que a gente acha mesmo que o copo está meio vazio e que o jogo do contente tem hora pra terminar. Tem dias que a gente chega à conclusão que “rapadura é doce, mas não é mole”; que de tanto usada a faca já não corta; que formiga nem sempre sabe que roçado come; que “no meio do caminho nem sempre tem uma pedra” e que se a “natureza é viva um dia será morta”. Tem dias que “a gente se sente como quem partiu ou morreu. A gente estancou de repente, ou foi o mundo então que cresceu”?