Adeus à minha amiguinha
Adeus à minha amiguinha
Hoje despedi-me de uma amiga de muitos anos. Acho que não estou exagerando quando afirmo que ela foi a mais leal e fiel amiga que já tive. Que não se ressintam minhas outras amigas, tão importantes e marcantes em minha vida, mas a Tatty esteve sempre ao meu lado sem nunca me recriminar, sem cobrar nada, me aceitando como eu sou e me amando demais. Isso é o que eu chamo de amor incondicional.
Minha amizade com Tatty, minha pequena cadelinha “poodle” vem desde 1997. À época, eu havia perdido recentemente uma outra querida cadelina, que conosco conviveu por quase um ano. Foi uma perda difícil, chorávamos muito, eu e minha filha, ainda criança na ocasião. Cheguei a perder 2 kg, tamanha a dor da perda e da saudade. Havia prometido que em casa não entraria mais nenhum animal de estimação, já que eu parecia não saber lidar bem com a ausência que a morte causava e, pra quem me conhece mais a fundo, tenho um dom imenso de me apegar a amigos(as). Não que eu seja egoísta, mas o desapego me é custoso.
Lágrimas ainda rolando pela face, uns 15 dias após a partida da Dolly, lá estava a Tatty em nossa casa, trazendo um pouco de consolo aos nossos corações. Decidida e brava, a nossa nova mascote tinha a personalidade espanhola da senhora que a deu-me de presente, uma amiga já com 65 anos de idade, a quem conheci nas aulas de natação.
Tatty fora a rejeitada da ninhada, ninguém a quis comprar pois tinha um defeito na patinha dianteira, mas eu digo que aquela cadelinha portadora de DF tinha que ser minha.
Mas essa limitação em nada a impedia, pois era tão ágil e arteira que poucos notavam que ela mancava um pouco. E como era “educada” – fazia suas necessidades nos locais determinados, alimentava-se bem (vendia saúde, diga-se de passagem), corria rápido, mesmo manquitolando, atrás da bolinha, divertia-se e nos divertia também com as brincadeiras que inventamos, não subia até os quartos. Essa última regra, lógico, eu mesma quebrei e não tardou muito pra que Tatty se apossasse da casa inteira. Tinha pleno pertencimento do meu quarto e, na sala, me fazia companhia quando eu ouvia músicas, assitia filmes, lia....ou cochilava no sofá.
Fazia muita festa com a minha chegada e, antes que eu entrasse em casa, já estava feliz, abanando o rabinho, pois era capaz de reconhecer o barulho do motor do meu carro, numa São Paulo tão barulhenta, mesmo quando esse era novo e quase silencioso.
E quando o tema era “fazer artes” ela, mesmo educadíssima, se saía uma molequinha. Não esqueço o dia que comprei uma tapioca pra viagem. Deixei sobre a mesa da cozinha, tomei meu banho, preparei um café com leite e fui animada comer a tal tapioca. Que nada...fiquei só na vontade, pois a Tatty já tinha comido. Fiquei furiosa, gosto tanto de tapioca!!!!! Mas como não se render àqueles olhinhos implorando perdão, àquele jeitinho de se arrastar no chão, mostrando que sabe que fez coisa errada, mas mesmo assim é completamente inocente?
Foram tantos momentos felizes, de profunda amizade, de grande sintonia....Como aquela cachorrinha me compreendia tanto e conhecia as minhas variações de humor. Por outro lado, não existiu até hoje um ser que recebesse meu perdão de forma tão incondicional quanto ela.
Também existiram os momentos de medo e tristeza, como daquela vez em 2007 em que ela fez uma operação de risco bem no dia do meu aniversário. Orei a Deus com tanto fervor e pedi que não levasse minha amiguinha pois eu não iria suportar isso. Falei com o médico veterinário que me desse de presente a minha cadelinha viva e saudável, ao que ele exclamou: _ Que responsabilidade!!!! Mas Deus me ouviu, o médico fez o que podia e a Tatty se recuperou rapidamente.
Os próximos anos foram mais difíceis, alguns veterinários chegaram a decretar sua sentença de morte, ou prever que ela não andaria mais por causa de uma grave luxação de patela, muito comum nos cães de sua raça . Tatty, contrariando todos os diagnósticos, viveu e encantou minha vida por um bom tempo ainda. Se ela conseguia andar? Subia até as escadas, principalmente pra ir atrás de mim.
Tivemos por ela um amor muito grande, eu e minha filha e cuidamos da melhor forma que pudemos. No entanto, a doença diagnosticada em 2007 (hiper adreno) voltou bem nos últimos dias do ano passado e, rapidamente, o mal degenerativo foi roubando a agilidade dela, entrevando as perninhas, deixando-a tão magrinha e tão vulnerável.
Há três semanas atrás, vários médicos veterinários aconselharam a eutanásia, mas o coração disse não. Eu já havia decidido pela castração dela, sem ao menos saber se tinha esse direito. Agora, não iria mesmo declarar sentença de morte à ela. Decidimos cuidar muito bem dela, medicá-la quando necessário, fazer tratamentos caseiros (receitas da vovó com matruz e azeite, entre outros antigos segredos), frutas amassadinhas, suquinhos de frutas... Nossa amiguinha ficou tão dengosinha. Já estava querendo comer só na minha mão!!!! Até que, neste final de semana, tive que comprar uma mamadeirinha pra que ela se alimentasse com líquidos, já que a ração não estava parando em seu estômago. Senti que ela estava se despedindo, embora “mamasse” tudinho.
A doença avançou tão cruel e rápida e, para abreviar o sofrimento que se intensificou nesses últimos dias, fiz um novo pedido a Deus – dessa vez, pedi que levasse minha cadelinha, pra que ela não sofresse mais, pra que eu não precisasse eutanasiar, pois não agüentaria esse peso. Fiz essa oração hoje pela manhã e fui trabalhar, o coração pesado, triste ao vê-la tão encolhidinha e quietinha demais!
Ao sair, olhei para a fachada da casa e tive um pressentimento, quase uma certeza. Não demorou muito para que se confirmasse e minha cadelinha se foi.
Apesar da dor e das lágrimas, arrumei minha amiguinha, a penteei para que ficasse bem bonitinha, pus um lacinho colorido e borrifei um pouco do meu perfume preferido, de baunilha.
Decidimos por enterrá-la num cemitério próprio para animais de estimação, ao lado do cemitério onde nossa família possui um pequeno jazigo. Talvez um dia, quem sabe eu e minha amiguinha fiquemos perto de novo. Foi triste demais ver aquela coisinha tão indefesa dentro daquele caixãozinho tão singelo de madeira virolinha, vê-la sendo enterrada, a terra fria lhe cobrindo.Já estou sentindo muita saudade, parece que sentir saudade é a minha vocação.
Mas também estou grata a Deus por ter me permitido que convivesse por quase catorze anos com essa amiga que me amou (e foi amada) de forma incondicional, me deu atenção e carinho, verdadeiro presente em minha vida. Não tenho coragem de avisar àquela senhora, minha amiga que me presenteou com tamanha bênçao que a Tatty partiu hoje.
DESCANSE EM PAZ, MINHA AMIGUINHA. VOCÊ ME FEZ MUITO FELIZ POR TODO O TEMPO EM QUE CONVIVEMOS.