OFICIALMENTE BÊBADA - POR EMILY BURTON

Depois do terceiro ou quarto copo, tudo o que vier eu topo? De jeito nenhum! Quando bebo perco o juízo, não me responsabilizo, nem por mim, nem por ninguém? Muito pelo cotrário!

Quisera eu voltar aos anos da minha alcóolatra inocência, da minha embriaguês solta, livre nas madrugadas, nas ruas, quando todos os gatos eram pardos e eu era a mais pálida sombra do que pensava que era, quando nada me importava e o dia era apenas um intercurso fortuito entre a madrugada e a Lua no céu, ou as nuvens e a chuva, seja o que for.

Era uma embriaguês disposta a correr riscos físicos, emocionais, retardatários, temporãos, maduros e imaturos, riscos de morte e de vida!

Hoje, oficialmente bêbada, tento sobreviver, teimo em não ir para a cama, se a orgia que mereço não é possível, se o corpo que me aquece está frio, se a dor não se vai num copo de cuba-libre, ou em dois, ou em três, ou numa garrafa e meia que foi o que eu já tomei.

Quando bebo penso, penso e penso em tudo o que evitro pensar estando sóbria.

Meus erros e acertos, minhas caretas de gozo ou de dor, minhas carnes cansadas das pegadas sempre e sempre tão iguais, tão viris ou femininas, tão sempre iguais! E o mesmo corpo em tantos corpos, os mesmos sorrisos, tudo é tão, mas tão repetitivo, que cansa e dá vontade de ficar bêbada um pouquinho a mais do que já estou.

E ele me espera e eu já disse que não vou.

A cama me espera e eu já sei que não durmo.

O sexo pisca, os seios endurecem, os olhos se fecham e me pego desistindo no meio do caminho, por que não é com ele, nem dele que quero mais do que um ressonar, só quero com aquele, só gosto com aquele, advinha quem é ele?

É o que eu não posso ter, por que, por mais que eu o queira, sei muito bem que não vai dar, não vou dar para este, de jeito nenhum, mesmo estando oficialmente bêbada, e o corpo frio que me espere.

Não é neste corpo onde quero me esquecer de mim mesma, é no abraço, e o abraço já se foi, faz tempo.

Então, por que mesmo bêbada, sinto como se aquele estivesse ali na esquina?

Parece que hoje aquele vem!

Vai-te, levanta-te e anda!

Saía daqui que o meu amor vem.

Ele não sabe ainda, mas ele já chegou, nas brumas etílicas em que estou, minha embriaguês que não me deixou ser a mesma de quando tinha 15 anos de idade, quando ficar bêbada era o ponto de início da noite.

Hoje, é o seu final.

Sem aquele, de que me serve este?

Minha noite se vai, aos poucos, sem pontos finais, só reticências.

Merda.

DO DIÁRIO GRAVADO DE EMILY BURTON.

Iama K
Enviado por Iama K em 07/01/2012
Código do texto: T3427012
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