João
O galo cantou alto e, João do Vale dos Prazeres acordou ainda cansado da moda de viola e dos beijos arrepiantes da mulata da noite passada.Passou a língua nos buracos sem dentes e depois de apertar os olhos , coçou a cabeça, como se estivesse penteando os cabelos enrolados e oleosos.
Levantou-se , tomou um gole profundo da sua cachaça favorita, escarrou forte em um balde de barro e fazendo várias vezes o sinal da cruz ,beijou a imagem de nossa senhora , com muito apreço e reverência.Olhou ainda pela janela e viu que as luzes estavam sendo acesas , e o sol já subia por trás do milharal.Andou um pouco , e sorrateiro pegou um prato velho , enchendo de água e farinha.Depois , mexeu por alguns minutos e em seguida , enfiou toda aquela massa na boca , e com um movimento a engoliu sem pensar.Estava feita a primeira refeição antes de montar seu pangaré arretado , chamado Zé ,e ordenhar o gado até o meio dia.
Abriu a porta da pequena casa e encarou o sol de frente.Pensou uma ou duas bobagens e caminhou em direção ao estábulo.Quando entrou , já estava cantando , acordando a bicharada e sentindo orgulho de si mesmo. No vale dos prazeres vivia João , que sentado em seu cavalo e com seu chapéu maroto era homem como ninguém. Peão caboclo ....peão durão.
E vivia João como queria. Cavalgar feito louco , como seu pai fazia.Cara bravo da região , corajoso com o coração. E olhe lá , lá vem João e mais um dia.....
João passou, num rastro foi.Em seu cavalo foi como quis.Não tinha luxo , nem muito pão , mas é a alma desse país!