NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM, MAS DE PÍLULAS DE...
NEM SÓ DE PÃO VIVE O HOMEM, MAS DE PÍLULAS DE...
Estava entediada numa segunda feira, quando me deparei com alguns textos de Cypriano Luchesi e Rubem Alves. Sou apaixonada pelos dois. Mas... Rubem Alves me arrebata porque é exímio contador de histórias bem humoradas, com aquele tempero especial de ironia... E deixei o pensamento voar...
Tudo começa quando você encontra a primeira pessoa depois de acordar... Para aqueles que têm o famoso mau humor matutino, haveria uma pílula de efeito imediato, que transformaria suas “caras amarrotadas e sisudas” num sorriso glamouroso, acrescido de outros gestos de gentileza e ternura, com a alegria de quando se dá bom dia para o sol, chuva ou a nuvem que passa!...
Depois, ao se preparar para a festa (que seria o dia de trabalho na segunda-feira), relembraria as fisionomias dos colegas e anteciparia a sua satisfação ao revê-los, doando-lhes o melhor sorriso, aquele abraço caloroso e o discurso convincente, porém sem palavras, traduzindo sentimento de alegria por estar assim em tão boa companhia...
Os problemas estariam todos nos seus devidos lugares, prontos para serem solucionados ou entregues ao Dr. Tempo, que por certo os resolveria...
Também haveria o momento, desfrutado e respeitado por todos, de contar as “pré-ocupações”, cuidando de entendê-las dessa forma: ocupar-se com coisas que poderão ou não acontecer. Sobrariam então ouvidos para ouvir, gestos de compreensão e risadas para curtir... Assim, todos os dias teriam a comemoração de um encontro e até certo sentimento de perda ao deixar o trabalho, por ser um lugar bom de se aprender e viver...
Haveria um Decreto Presidencial para abolir o sentimento de obrigação, que obriga a ação e, portanto, diminui as possibilidades de prazer... Afinal quem aprecia fazer coisas, todos os dias, por obrigação? Fiquei a pensar quem nos obriga a sentir desprazer no trabalho ou na companhia de alguém a não ser nós mesmos com o significado que atribuímos às coisas?
...Assim refletindo, hoje vi um colega de sorriso amarelo e então pensei que eu posso ver aquele sorriso da cor que eu quiser, porque os olhos são meus e eu posso enxergar com as lentes que eu quiser... De repente veio à minha mente alguém tão carinhoso, tão espontâneo, com um sorriso tão iluminado e tão gentil que eu quase o chamei de volta para lhe dizer que estava lindo naquela manhã cinzenta de segunda-feira... Acho mesmo que se eu dissesse tudo isso talvez ele considerasse uma ironia... Afinal, as nossas lentes nem sempre estão coloridas e com boa manutenção... Mas é verdade que eu o vejo agora menos cansado, sem pressa alguma e com muita vontade de ficar em nossa companhia...
Acredito até que deve existir uma pílula para decodificar as esquisitices que identificamos nos outros, do mesmo modo que os outros teriam acesso à pílulas para decodificar as nossas esquisitices( quem não as tem?)
É claro que essa maravilhosa invenção não revelaria os nossos segredos mais íntimos... (O que seria dos amantes ?)
Já pensou que divertido? Alguém deixou de nos dar atenção ou simplesmente quer ficar no seu canto... Imediatamente tomamos a pílula e com ela descobrimos que a pessoa teve uma noite mal dormida, um filho chorando no ouvido ou recebeu uma visita indesejada e não fez aquele passeio legal programado... Tudo compreensível e explicável. Mágoas? Nem pensar! Afinal que não passou uma fase difícil que justifique um “um brilho fosco” no olhar?
De repente as imagens do ocorrido são modificadas como um filme a rebobinar... O que era desagradável aos ouvidos e ao coração, muda completamente. Um novo roteiro é escrito. São as pílulas milagrosas que serão descobertas! Dizem até que, experimentalmente, encontram-se em uso por cobaias corajosos que estão rindo à toa sem Prozac... Alguns afirmam que o tal medicamento será disponibilizado nas farmácias com nomes genéricos como EMPATIA CONGÊNITUS ou INDULGÊNCIA ADQUIRIDUS. Os cientistas têm atestado a sua eficácia! E... daremos início a maior revolução tecnológica de todos os tempos: A Reengenharia da Alma.
Carpediem!