PREFIRO TOMAR PEQUENAS DOSES DE VENENO

Pensamentos vêm e vão. Principalmente daqueles de quem gostamos e que nos trazem alguns momentos de felicidade.

Fico pensando em tantas coisas das quais gosto e nem dou o devido valor, apenas gosto, sem merecer maior atenção da minha parte.

Parto do princípio de que gosto e isso é suficiente para estar em minha vida. Mas quando se trata de pessoas, não basta tê-las em sua vida, tem que demonstrar que gosta delas. Tenho dificuldade para isso.

Sou capaz de tomar pequenas doses de venenos, de remédios amargos,

engolir cápsulas que engasgam na garganta,

fumar cigarros sem filtro que deixam um gosto amargo na boca e dificulta a respiração,

saltar de paraquedas,

abrir os braços no alto de um terraço.

Das coisas amargas e perigosas da vida, por elas me encanto.

Agora quando se trata de falar de sentimentos, a dificuldade aparece porque preciso demonstrar e nem sempre estou disposta a isso.

Não estou disposta, talvez não seja a palavra correta, mas o demonstrar puro e simples não pode ser através do “passar a mão na cabeça e dizer eu te amo” e virar as costas. Tem que ir além do tratamento canino, tem que ser determinado.

Minha dificuldade em demonstrar de que eu gosto muitas vezes me faz perder pessoas, e isso não dá para recuperar de uma hora para outra.

Parece simples para todos, mas para mim não é. Se tivesse uma fórmula com certeza a usaria, porque quero que a outra pessoa saiba de que lhe gosto muito, mas as palavras não veem e os atos ficam presos ao corpo. Então, ponho tudo a perder.

Quando se é criança, dar uma bala, um bombom já significava de alguma forma que havia ali um sentimento maior que a amizade, estava implícito.

Hoje, como adulta, só um bombom não significa nada. É apenas um bombom, e dependendo da pessoa não será nem comido com a desculpa de que “não gosto de doces”. Por medo de ser repelida eu abaixo a cabeça e não enfrento os meus sentimentos.

Para que se torturar?

Seria obrigada a ser o que não quero, não quero ser simplesmente igual a toda gente, mas também não quero ser diferente, quero ser eu mesma com todas as minhas inseguranças, medos e sem enfrentamentos dos quais não poderei lidar.

Acho que só sei amar pela metade. Não me façam ser quem não sou. Quero voar mas não vou pular de um prédio. O que quero nem sempre é possível.

Sou quero ser eu mesma, demonstrando da maneira que posso e aos poucos serei capaz de me doar mais e a partir de pequenos atos, sejam de amor ou de amizade, com certeza não serei a mesma pra sempre.

Suporto as pequenas doses de venenos, o barulho alto das festas heavy, as drogas mais ilícitas, as ideias mais enlouquecidas das quais eu possa ter, até fórmulas complexas para decifrar... posso ser tantas, mas me prendo em apenas uma: a que deveria amar e não sabe como.

Não me venham com palavras de que “tudo é possível”, “não é tão difícil assim” e outras. Quero voar mas não tenho asas. Estou presa ao chão,estou presa a sentimentos, estou presa a demonstração de afetos.

Quero o ar puro do terraço, a imensidão do espaço e a liberdade de ser eu mesma.

katialimma
Enviado por katialimma em 06/01/2012
Reeditado em 22/08/2020
Código do texto: T3425263
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