A Louca de Quintana
Estamos em 2012. É um novo ano, um ano ainda bebê, recém-nascido – e, como todo recém-nascido, símbolo de vida nova e de esperança. Por todo o mundo, bilhões de pessoas brindaram a “virada”, fizeram simpatias, promessas, planos, trocaram abraços, brindes e votos de paz, saúde, amor, dinheiro e felicidade para os próximos 366 dias (um pouco menos agora, que já se passaram alguns dias).
Embora haja aqueles que não compartilham da euforia coletiva, a maioria entra o Ano-Novo repleto de boas resoluções, de projetos para uma vida melhor. Porém, sempre tem os que alegam que esses bons sentimentos se esvaem com os meses, que muitos projetos ficam pela metade, que é apenas mais um ano como os outros. A pergunta é: por quê? Por que não pode ser diferente, melhor? Por que as resoluções não podem ser mantidas, os projetos concretizados?
Talvez o que falte, no decorrer do ano, seja manter viva a chama que arde no início de cada nova etapa: a esperança. Depois de uma ou duas semanas, deixamos aquelas listas de objetivos caírem no esquecimento, afogados no mar diário de centenas de coisas a fazer. Mas não precisa ser assim.
A cada Réveillon, lembro-me de um poema do grande Mário Quintana:
“Lá bem no alto, no 12º andar do ano
Vive uma louca, chamada Esperança
E ela acredita que quando todos os sinos
Todas as buzinas, todos os reco-reco tocarem
Se atirará, e – ó, delicioso voo!
Será encontrada, miraculosamente incólume na calçada
Outra vez criança...
E em torno dela indagará o povo:
– Como é teu nome, menininha de olhos verdes?
E ela lhes dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá, bem devagarinho, para que não esqueçam:
– O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...”
Pois meu desejo neste início de 2012 é que a meninha de Quintana siga com cada um de nós mês após mês, que cresça conosco, e que não nos esqueçamos dela como uma louca relegada a 31 de dezembro. Feliz Ano-Novo!
(Crônica publicada originalmente no jornal Pioneiro, no dia 02/01/2012)