ANO NOVO
 
 
Aproximava-se o final do ano!
Cinco minutos para findar um e nascer outro e a alegria nas ruas recrudesce visivelmente.
Como numa procissão, caminha uma multidão pela praia, rumo ao local onde haverá shows e queima de fogos, em Copacabana.
Grupos compactos de amigos, famílias inteiras, bandos álacres de jovens entoando canções, gritos, risos, muita roupa branca, apesar da chuvinha que insiste em cair.
Em sua grande maioria, cada grupo porta, pelo menos, uma garrafa de champanhe e diversas taças , convenientemente, de plástico.
Nas sacadas dos edifícios próximos, luminosamente decoradas, muita gente se prepara para assistir ao espetáculo pirotécnico, com espantosos 20 minutos de duração!
Na praia, as areias suportam o peso de, talvez, um milhão de pessoas, que balançam ao som da música que vem dos inúmeros palcos ali instalados.
Todas as ruas no entorno  do local foram fechadas ao trânsito e passaram a ser domínio exclusivo dos pedestres que, como formigas, vêm chegando, atraídos pelas luzes e sons do majestoso palco erguido sobre a areia, a meio caminho do mar.
Grandes projetores de raios laser, espiam o céu escuro, como a procurar um rasgo de azul inexistente e são absorvidos pelas nuvens carregadas que cobrem tudo.
A chuva, ora fina, ora em bátegas, não cessa. Mas nada vai apagar o brilho da festa!  Materiais dos mais diversos são usados como capas de chuva; sacos plásticos, jornais, cobertores. caixas de papelão e, é claro, guarda-chuvas!
O importante, mesmo, é estar presente, participar desse congraçamento sem par, onde todos são como velhos conhecidos que se reencontram.
E a chuva, que molha tudo e todos?
Não tem nenhuma importância, pois uma imensa  maioria vai acabar mesmo entrando no mar, para os tradicionais 7 pulinhos sobre as ondas,  É só uma questão de tempo!
 
Chega a ansiada hora! Começa a contagem regressiva, a tensão vai num crescendo e a multidão, hipnotizada, vai contando; dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, TRÊS, DOIS, UM!
e,  então, o mundo explode! Com um rugido gigantesco, multiplicado pelo paredão dos prédios, a multidão, pula, ri, abraça-se; espocam as champanhes, estalam milhares de beijos, milhões de flashes disparam e o céu se enche de luz.  Amarelos, vermelhos, azuis, verdes, prata, ouro, desenham flores, sóis, cascatas; assovios e rojões ensurdecem com sua força, aturdem e atiçam mais ainda a euforia que invade a todos.  O areal cria vida, move-se como imensa serpente, ladeando o mar.
 
Noto, então, uma jovem mulher, protegida por seu guarda-chuva, com uma garrafa de champanhe na mão  e uma pequena taça meio-cheia.
Está sozinha, mas ainda assim, caminha por entre toda aquela confusão, acompanhando tudo com um olhar de tristeza e abandono, como a procurar alguém, que sabe não vai encontrar.
Move-se lentamente, como em transe, olha tudo e, penso, nada vê. Encontra-se num torvelinho de emoções, dentro de um gigantesco campo de energia e está insensível a tudo, como se pairasse em outro plano; uma criatura humana sozinha no meio de uma multidão!
Corro até ela, com minha taça na mão, abraço-a e brindamos pelo novo ano que acaba de nascer. Permaneço com ela alguns instantes, ambos mudos, mas num aperto muito forte de mãos e dirijo a Deus o meu pedido para que no próximo ela, afinal, encontre seu companheiro e a felicidade que neste não teve.
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“A sua solidão pesou-lhe um instante, ele queria ter alguém a quem falar.
É difícil ver o belo sozinho.”  (Per Sundman)
paulo rego
Enviado por paulo rego em 05/01/2012
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