Por que fechar o Espaço Cultural?
 
          Desde abril de 1982, quando Tarcísio Burity abriu o Espaço Cultural José Lins do Rêgo, ele nunca foi fechado. Algumas gestões o submeteram à parca safra de eventos; contudo, jamais ao fechamento.  Abrigou, nos 54 mil m² de área coberta, inúmeros acontecimentos culturais, afirmando-se, além de centro de convenções, como polo aglutinador e irradiador das artes, da cultura e do lazer no Estado. Houve megasshows, na Praça do Povo, com até cerca de vinte mil pessoas. Em 1999, quando assumi a Presidência da Funesc, surpreendeu-me a notícia, plantada pela “business organization” do ramo,  de que o Espaço Cultural fecharia por longo período, para reforma. No mesmo dia, desmenti a cavilosa notícia de autoria, logicamente, de quem lucraria com o fechamento do Espaço Cultural.  Afirmei que o recuperaria sem fechá-lo, sofri retaliações, mas assim o fiz; mais tarde, em dois anos, também o fez Maurício Burity. Então, durante aqueles quatro anos, ele gozou pleno funcionamento, o que se confere na “Memória da Funesc – 1999/2002”, de minha lavra, lançada onde se instalaria o criado Museu de Arte Contemporânea, num café da manhã, com a presença de jornalistas, autoridades, funcionários da Funesc e convidados que, ato contínuo, visitaram as realizações citadas no relatório.
 
        Para que fechar a maior “casa de show” em temporada turística? A quem isso serve? O Espaço Cultural, como entidade pública, enfrenta particular concorrência; heroicamente supera batentes e resiste a políticas indiferentes à periodicidade dos seus eventos. Ressalte-se que, de 1999 a 2002, recuperando-o, fizemos quatro grandiosos Fenart, apresentações mensais da completa OSPB regida pela maestrina cubana doutora Elena Herrera, Quintas Musicais, exibições semanais no Banguê, festivais de cinema, teatro e dança regionais, nacionais e internacionais, exposições, mostras com a presença de pintores exponenciais como Tomie Ohtake, shows como os de Roberto Carlos, Rita Lee, Marisa Monte, Novel Voz de Cuba, Milton Nascimento e tantos outros de semelhante porte.

          Louvo, como vibro, qualquer propósito de recuperar aquele enorme espaço físico, tão enorme que é recuperável sem parar suas atividades. Frequentando-o, até acompanharíamos as reformas visíveis e sentiríamos as invisíveis.  A Prefeitura Municipal, nas duas gestões passadas, provou isso: recuperou o Mercado Central, de maior complexidade de funcionamento, sem fechá-lo. Esta sugestão construtiva esclarecerá o senso crítico do mundo cultural que teme que Espaço Cultural não esteja sendo fechado para ser recuperado, mas sendo recuperado para ser fechado...