penitenciária feminina - a terceira margem do rio

Há quem não entre ali. Por medo. Ou por ordem delas. Coisa de território sagrado, coisa mesmo de um mundo só delas, tantas mulheres, que habitam essa outra e “terceira margem do rio”.

Há naquele espaço muito da dor e da delicadeza do agreste mundo de Guimarães, o Rosa. Terceira margem de um viver estagnado, jogo marcado a cada segundo, engrenagem precisa e em convulsão. Logo todas querem aparecer na lente, no foco, na luz. Querem sair dali, querem pegar o bonde pra qualquer lugar.Lá estão elas inteiras, desfocadas, em clausura. Expostas e ignoradas. Visíveis e transparentes. Têm a rouquidão dos gritos sufocados. São seres de desejos, olhos, mãos, bocas, caras e cortes suicidas no pulso do viver.

E, do outro lado da grade, margeamos esse viver de limites estreitos, com a incômoda sensação de que é preciso fazer algo, de reconhecível, de ruptura. De saltar grades, unir margens, romper inércias, de ter vergonha, de ter ódio pulsante para criar qualquer coisa, ainda que não sejam utopias radicais.

Elas pedem, imploram, agridem com o olhar, sorriem, dão-se à foto, esticam os braços, argumentam, negociam, apelam, vociferam, e expõem a crua força de uma incompreensível razão de ser, em margem terceira deste rio doido e doído da vida.