alinhavos

Pés descalços (ou em desalinho?)

Dos pés descalços a linha partiu. Subiu a ladeira ensolarada e entrou na primeira porta aberta que encontrou, do lado esquerdo do ponto de ônibus; era uma barbearia e o barbeiro cortava a barda do homem velho. Usava uma tesoura afiada com precisão. A linha subiu pelo pescoço duro do barbeiro e desceu pelo ombro do velho que quase roncava; fugiu da tesoura que alinhava a barba prateada e desceu para o chão de azulejos encardidos e cheio de pelos. Voltou-se para a direita, fugindo dos pés cansados do barbeiro e rumou para fora. Começava a chover e a linha subiu pelo primeiro poste que encontrou, para não se perder na enxurrada que avançava pela linha da calçada. Seguiu ela pelos fios pendentes e encharcados e parou aos pés de uma pomba, triste e molhada. A pomba olhou para a linha e a prendeu com o bico, esticando-a sem dó. Levou-a pelo ar. Só pararam a pomba e a linha junto aos pés descalços do homem que lhes ofertava murchos grãos de milho.