Tardes deliciosas.

Creio que foi em 1961. O prof.José Luiz Pasin nos convidou para passarmos o sábado numa fazenda,se me lembro bem,propriedade de sua família.Lá fomos nós,adolescentes,em busca de um mundo melhor,típico dos anos 60. E lá chegando,fomos acolhidos pelos pais,muito cordiais e atenciosos.Sua mãe,um encanto! A fazenda ficava incrustada junto a um morro,próximo de Roseira Velha. O casario,a senzala antiga,o pomar e um frescor de juventude no ar. O Zé Luiz atendia a todos com prestimosa atencão e seu irmão,um pouco sisudo,apenas esbocava um leve sorriso.Era um dia de sol forte.A várzea de Roseira Nova se espraiava à frente...arrozais muitos...banhados...e muitas aves. Dava para enumerar as garcas,nhambus,biguás,marrecos,paturis,frangos-d*água,socós e aí por diante. O vale era muito bonito. Em certo momento,nós nos sentamos próximo à antiga senzala.Falamos sobre amenidades,trivialidades da juventude.Em certo momento,o prof.Zé Luiz passou a discorrer sobre a conservacão das antigas fazendas do Vale do Paraíba.-*Tudo isso tem valor histórico.Contam fatos que,jamais,uma escola há de ensinar.* E viajamos pela história e filosofia.Era gostoso conversar com o Zé Luiz quando ele destava inspirado.Havia muita cultura e intuicão nos pensamentos daquele ser. O calor,ou como diria Graciliano Ramos,a canícula,nos obrigou a permanecer estáticos,embaixo da mangueira.Nossos olhos,um tanto cerrados,comecaram a observar uma batalha fantástica. Uma vespa dourada enfrentando uma aranha negra.A aranha era muito maior. Vôos rasantes e subidas alucinantes...a vespa não parava. A aranha,encostada entre a parede da senzala e o chão,dobrava as pernas e se fechava tentando se defender dos bombardeios da vespa.Mudez total...Olhos agora abertos e agucados.Nenhum comentário...só observacão. Eterna luta entre o Céu e a Terra.Um zumbido quase imperceptível tremulava no ar.Olhar pesado na aranha. A vespa,numa investida fantástica,fez com que a aranha se movesse e aplicou-lhe uma ferroada lancinante.A vespa voou para o alto.A aranha arriou as pernas e desfaleceu. A vespa pousou tranquilamente,esbelta,vencedora,comecou a puxar a aranha para um buraco aberto no chão. Era sua casa. Percebeu que o tamanho da aranha não entraria por aquela abertura,então comecou a abri-la. Puxa a aranha....não cabe...larga a aranha evolta a abri-lo.Puxa a aranha de novo. Agora sim...foram as duas para o mundo subterrâneo.O Zé Luiz nada me disse,terminado o espetáculo,apenas entreolhou-me.Levantei-me,bati no traseiro para tirar a terra impregnada,esbocei um sorriso e o Zé Luiz adentrou a casa.Olhei mais uma vez para outro espetáculo da natureza: a várzea do rio Paraíba.Os pássaros estavam partindo. Eu também me fui do Vale.E nunca mais passei estas tarde deliciosas.Obrigado prof.Zé Luiz.

Chico Chicão
Enviado por Chico Chicão em 04/01/2012
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