Coletivo nas estradas paraibanas
Nove da matina é já estávamos com um pé na estrada e outro nas praias, nós, caros companheiros de viagem. Esperava que a experiência pudesse ajudar nos meus textos para um próximo livro, Xavier esperava incrementar seus versos, além de comer coisas diferentes e Emil buscava imagens, que fariam sua esposa tomar gosto pela aventura de conhecer novos lugares e pessoas, nesse mundão de meu Deus!
Assim que Xavier, um de nossos mais antigos camaradas colocou os pés em João Pessoa, ou Jampa, como chamam a cidade os calmos e simpáticos pessoenses, tratou de fazer umas fotos. Percebemos pelo material visual que ele nos enviou, de resto, sem qualidade técnica, mais pelos panfletos turísticos, que eram muito bem feitos, o que não havia como negar: era o Caribe brasileiro!
Então, após meses de conversas entre amigos, litros de cerveja no botequim da esquina e rumamos para lá, colocando os pés nas águas também. E que águas. Turquesa em alguns dias. A estrada para o Litoral Sul é boa e em menos de meia hora estávamos “in loco”, averiguando as falésias que levam até a pequena Tambaba. A vista de cima é inesquecível. Descemos e soubemos que na praia de nudismo não entram homens sós, apenas com a presença de uma mulher. Pelo horário matutino, ainda não havia cervejas no único bar, que ainda não abrira.
Melhor assim, voltamos por Jacumã, vilarejo que toma ares de woodstock nordestino no carnaval. Mas passamos direto, sem saborear os peixes que lá são preparados. Chegamos a Coqueirinho, uma praia ranqueada recentemente entre as dez melhores (leia-se mais bonita) do Brasil. Uma dezena de quiosques com estrutura de restaurante se seguem, diante de uma praia com aparência de baía, sem muitas ondas. Alguns turistas de poder aquisitivo degustam pratos à base de camarões, sucos e ensopados de frutos do mar (mariscos, etc).
Depois de uma longa caminhada até a vizinha e vazia Tabatinga, onde nos sentimos numa locação perfeita para um filme à la Glauber Rocha, voltamos para o carro alugado que fritava ao sol do meio-dia. Sobe-se a íngreme estradinha de areia vermelha de uma vez, sem titubear.
Toca para Barra de Gramame, sempre voltando em direção à Capital paraibana. Depois de um desvio, descemos em direção à esta localidade outrora famosa, onde se encontram as águas do mar com o rio de mesmo nome. Por ser um dia de semana, os quiosques de teto de palha, com seu charme rústico, estavam quase todos fechados. As histórias contadas pelo pessoal de um deles, que nos serviu uma tainha com salada que apenas aplacou a ira iminente dos viajantes, são todas sobre a força das águas e o perigo de morte, para aqueles que se aventuram a nadar nessa “pororoca suicida”.
Cheio de cerveja ainda fui levar uns “caldos” nas águas do rio, mas com atenção redobrada, ainda peguei uma onda “de jacaré” (ou de peito)! O guaiamum, tipo de caranguejo, foi levado de lembrança para o lanche noturno e assim voltamos rapidamente para a cidade antes do pôr-do-sol, devolvendo o carro de aluguel, no bairro de Cabo Branco, onde ainda demos um último mergulho e tomamos todos uma saideira.
E à noite procuramos quartos em pequenas pousadas recuadas do tradicional bairro litorâneo de Tambaú, pensando em passar mais do que apenas uma noite bem dormida…porém o cansaço foi maior.
No dia seguinte alugamos uma casa no bairro tranquilo do Bessa. Quem sabe até quando ficaremos? A estrada sempre espera. Ela está lá quando preciso. Mas temos quase certeza que esse mês será aqui na Paraíba – onde se reinicia este nosso Coletivo artístico-literário, o coletivo Art, com um blog feito na terceira cidade mais antiga do Brasil, não por acaso (ou por acaso, pois ele governa a estrada da vida).
Como diria Zé Ramalho, em seu show à noite, nas areias e sob a lua cheia do início da primavera de 2010:”Essa vida tá muito cansada/desabitada do meu bem-querer./Há muito tempo esperando, querendo saber/aonde vem/aonde vai você./Que o tempo é pouco/e eu vou deixar correr./Há um lugar/para sonhar e ver./Que o tempo é pouco/e eu vou deixar correr. (em ‘Um lugar para sonhar’, no disco ‘Cidades e Lendas’).