LIVROS
Equilibro-me sobre um amontoado de livros e dele faço trampolim para alçar grandes voos rumo a novos e sonhados horizontes que se me descortinam à frente. Sobre eles edifico meus devaneios, tomo-os por base maior e mais perfeita para conseguir trilhar pelos caminhos de meus objetivos. Sustentam-me, apoiam-me à guisa do mais sólido degrau na perfeição de sua totalidade. São quase como botas de sete léguas ajustadas aos meus pés trôpegos cujos passos se desfariam nas tantas andanças cotidianas sem a força extraordinária desse glorioso suporte intelectual.
Dos inúmeros livros que me chegam às mãos através dos diversos caminhos da vida retiro o máximo que minha capacidade mental consegue com o fito de usufruir não apenas de seus conhecimentos inefáveis, mas também para, por intermédio deles, chegar aonde só vão os que deles extraem o máximo além do muito que podem oferecer. São como asas imensas, bem maiores do que as enormes águias avistadas devorando alguns espaços distantes com a potência de seus voos, e sobre eles me transporto sobremaneira tranquilo em busca de linhas e traços de emoções dantes nunca vistas nem outrora lembradas. São aviões a jato da memória, foguetes velozes cruzando o Cosmos da imaginação e gerando momentos e universos estranhos, diferentes, amorosos, tristes, alegres, multicoloridos ou sem cor. Através dessas naves cujo poder e força extrapolam o usual viajo a incomensuráveis velocidades acima da luz, passeio, flutuo, vivo.
Por eles e através deles pontes são construídas para unir mundos, e é nesses trajetos que me transporto sobrevoando letras formadas para tornar mais aberta, deslumbrante e deslumbrada a mente humana. São estradas iluminadas por luares maravilhosos sobre rios e mares onde flutuam peixes e sereias fantásticos carregados de sabedoria e conhecimento, tudo transmitido aos homens interessados em descobrir e conhecer. Os livros tem essa capacidade especial e inesperada de surpreender com suas infindáveis nuances, de trazer dos abismos corpos caídos ou pendurados no ar, de nos levar aos mais longínquos pontos da terra, aos mais impossíveis e intransponíveis.
Por conseguinte, sobre eles e neles me seguro, vou o mais rápido que posso aos céus, subo paredes íngremes num só pé e desço montanhas apoiado nas mãos, corro e descanso, ando e permaneço inerte, manuseio suas páginas derretido em sorrisos, morto e vivo a um só tempo. São os livros, caminhões e mais caminhões recheados de deliciosos compêndios que me dão o doce prazer de ler e reler, aprender e saber mais, repassar conteúdos, emprestar e nunca mais receber, pedir emprestado e não devolver, porque eles são patrimônio da humanidade jamais algo privado que deva permanecer abandonado sobre estantes, de onde saem somente para a retirada da poeira acumulada pela indiferença.
Posso chamá-los de amigos e levá-los aonde vou, tê-los comigo em qualquer lugar e abri-los refestelado nos bancos de praça, nos aeroportos, nas salas de espera, no sofá da sala, na cama, sorri com suas diatribes, tornar-me sonhador, devanear, escrever entrelinhas, sublinhar cada frase, cada capítulo que me chamar a atenção naquele momento. Amontoo-me em meio a eles, abraço-os sem pejo, rio e choro com eles, por eles, neles minhas lágrimas respingam e minha voz é abafada, ampliada, denotada, aumentada. Meus livros, seus, nossos, coletivos, do mundo, nas silenciosas bibliotecas, nas movimentadas livrarias, esquecidos depois de lidos, mas de supremo valor para quem ainda não leu. Instantes onde penetro, ruelas por onde ando, estradas me conduzindo, becos sem saída cuja saída encontro, ruas escuras e claras, dias ensolarados, mares encapelados. Livros, esses gigantes, esses capetas, esses anjos, esses santos, esses ícones, essas quimeras! Sem os livros não somos nada, o mundo é nada, desaparece, desvanece no ar.