Gente de verdade

É, talvez, o impulso da vaidade. A ditadura de que a primeira impressão é a que fica. A exaltação exagerada do amor próprio. Mas penso que o pior nos seres humanos é achar que precisam viver de aparências.

É como estar preso em uma eterna entrevista de emprego. Há uma ponta de falsidade em cada afirmação, porque o discurso se inclina para um forçado positivismo em relação a tudo, quando até seus defeitos devem ser maquiados de qualidade.

Mais grave ainda se esse esforço tremendo para soar perfeito vem com uma atitude arrogante, pretenciosa. A pessoa abre a boca para falar e só o que sai é um “bla bla bla” fantasioso que tenta esmagar o outro em uma disputa de egos.

É o tipo de gente que você pergunta “tudo bem?” e ela responde “está ÓTIMO!”. Se ela mora com os pais e você não, ela alfineta “mas seu apartamento é pequeno”. Se ela está desempregada é por querer férias prolongadas. Se não foi promovida é porque o concorrente é filho do chefe. Se você já foi a Paris uma vez, ela... foi DUAS (ou pelo menos conhece alguém que foi duas).

Essa aparência de poder, o comportamento de rei sem coroa, talvez impressione algumas pessoas. Já eu acho ridículo. Prefiro os honestos, os humildes, os que sabem enaltecer seus pontos fortes sem precisar apontar a fraqueza dos outros, os que reconhecem também as próprias falhas e são valentes o suficiente para admitir quando estão errados.

Não precisa ser o tipo que sempre se coloca para baixo ou desabafa em lágrimas cada hora que alguém pergunta como vai sua vida. O que eu aprecio são humanos com senso de limites. Porque o exagero de amor por si é irritante. Tentar constantemente diminuir o outro para se sentir mais, maior, melhor... é desprezível.

Eu gosto de gente de verdade. Gente que entende que defeito faz parte, não é o fim do mundo. Gente que sabe conversar numa boa, sem competitividade. Que valoriza a vitória do próximo e consegue rir das próprias pequenas derrotas. Gente com altos e baixos.