Buscando o Príncipe Encantado
Jorge Linhaça
Quem nunca sonhou com o príncipe encantado?
Alto, belo e esbelto em seu garboso corcel, pronto para resgatar a princesa de seu sono profundo ou da torre onde estivesse aprisionada?
Os príncipes ganharam várias formas ao longo dos anos e a história do príncipe transformado em sapo e depois em príncipe pelo beijo apaixonado de uma princesa que conseguisse olhar além de sua aparência repugnante para a maioria ganhou força.
Creio que ganhou tanta força que hoje em qualquer balada é um tal de princesas beijando sapos de todas as formas e tamanhos que me parece uma incessante busca lotérica por um final feliz.
Há mesmo disputas de quem beija mais sapos numa única noite...e o brejo penhorado agradece.
Temos aí dois problemas...nem todo o sapo há de se tornar um príncipe por mais beijos apaixonados que receba...e para que isso funcione em algum momento iluminado é necessário que o beijo seja dado por uma princesa.
Não adianta a rãzada ficar toda animadinha porque no fim vão ter que se contentar com sapos mesmo e criar seus girinos.
Não existe homem perfeito, ainda mais num mundo onde prolifera todo tipo de sentimentos menos nobres.
É provável que alguns ainda se salvem desse brejo homogenizado e, encontrando algo semelhante a uma princesa venham a se tornar algo parecido com um príncipe.
Assim como é possível que uma rã se torne algo parecido com uma princesa se der a sorte de encontrar alguém melhorzinho.
A verdade é que é difícil saber o que se considera um príncipe ou uma princesa nos dias de hoje.
Quais os quesitos a serem analizados?
Educação, finesse, fleuma?
Carisma, humor e instrução?
Beleza e conta bancária?
Um sobrenome tradicional?
Algum desses ítens ou todos eles reunidos, garantem a felicidade do casal ?
Cada um há de encontrar a sua resposta e verificar o seu sonho de consumo, sim, pois hoje as pessoas são objetos de consumo, assim como um carro de concessionária muitas estão disponíveis para um test-drive. No entanto até o mais luxuoso dos carros, com o tempo apresenta defeitos.
A Frase...você não é mais a pessoa por quem me apaixonei ou conheci é o equivalente do descontentamento do proprietário com um carro que começa a dar sinais de fadiga depois de rodar algum tempo.
Assim como o carro necessita de revisão e manutenção, os relacionamentos seguem a mesma lógica.
Ao fim, ao cabo , há muito mais príncipes que viram sapos e princesas que viram rãs do que vice-versa...
O convívio vai demonstrando as manias, os rituais, os defeitos de cada um. A rotina vai gerando um incomodo cada vez maior o que leva a intermináveis "discussões de relacionamento" . Não que elas não sejam necessárias, são sim, e bastante, mas existem momentos inadequados ou fora do contexto. Temos a tendencia de nos acomodar e deixar as gotas irem enchendo nosso copo sem ligar muito para isso, no entanto quando aquela "última gota" ( geralmente nem tão importante assim ) transborda o copo de nossa insatisfação, é quando partimos para a tal "discussão de relacionamento" e por isso é que na maioria das vezes tais discussões se tornam infrutíferas pois os espíritos armados impedem a clareza do diálogo.
Certa vez ouvi algo de um amigo que pareceu inócuo mas que com o tempo percebi o quão sábio era.
Jamais discuta a relação no leito...alí deve ser um lugar de repouso, de intimidade...deixe os problemas do lado de fora da porta do quarto...( talvez por isso tenha-se criado o hábito de alguém ir dormir na sala...rsrsrs)
Na verdade para vivermos "felizes para sempre" ( coisa bem fora de moda hoje em dia ) é preciso entender que existem tres vidas em um casal...a vida dele...a vida dela...e a vida a dois...quando alguém se permite ser absorvido pela vida do parceiro e abre mão de sua identidade ao longo do tempo, conscientemente ou não, ou quando a outra parte coloca sempre os seus interesses , gostos e compromissos acima do do parceiro(a) a relação está fadada ao fracasso, por mais amor e sentimento que possa existir entre os dois.
Manter as individualidades e ao mesmo tempo criar um espaço mútuo para a relação é o grande desafio de sapos e príncipes, rãs e princesas.
Hoje com a possibilidade de pular de brejo em brejo com a aceitação passiva ou ativa da sociedade em que vivemos, a nobreza de uma família real tornou-se algo demodê.
É sempre mais fácil ir em busca de outro príncipe ou princesa do que manter aquele que já temos dentro de casa e do coração.