Esperança em 2012?
Os olhares das crianças nas vilas de Pelotas, o jeito como caminham, brincam. Tão inocentes, e tão absurdamente felizes, com o pouco que têm. Dão-me uma sensação de alívio, mas em seguida, surge uma revolta. A revolta é porque lembro que elas não precisavam estar ali, não deviam estar naquele lugar tão abandonado, tão esquecido por quem prometeu lutar por elas. O ano de 2012 será de eleições para prefeito e vereadores. E, novamente surgirá alguma esperança, a velha esperança de sempre. As promessas. As conversas sobre o que deve ser melhorado, tudo de novo. Até quando? Será que não estão cansados? Será que não se cansam de dizer sempre as mesmas coisas? Fazer os mesmos olhares? Como se o que estão vendo fosse algo novo, algo de agora? As crianças, nem elas conseguem infringir nestes políticos frios e desonestos algum sentimento de vergonha, de culpa. Não sentem vergonha porque estão ali novamente, com as mesmas promessas, vendo que para aquelas pessoas ainda nada mudou. Não mudou porque acreditaram nas suas palavras bonitas, nos seus olhares apiedados. Não mudou porque quem deveria ter feito alguma coisa, não fez. Após eleito, esqueceu. Voltou a preocupar-se com o seu tão querido "umbigo". Afinal, como preocupar-se com algo que não se vive diariamente? Como esses políticos podem lembrarem-se destas crianças, se não vivem a sua realidade? Se não sentem na pele o que é não ter água encanada, não dormir à noite por causa dos ratos e dos mosquitos que atacam sem discriminação: bebês, mulheres e idosos. Não dormir à noite porque a barriga ronca de fome, os pés doem de frio ou de dor. Dor porque caminham descalços no "chão não asfaltado" de nossa querida Pelotas, de 200 anos. Esperança nos políticos em 2012? Nenhuma. Esperança nestas crianças das vilas pobres de Pelotas? Sim, muita. Por que? Porque apesar de toda a dificuldade, elas ainda possuem um brilho no olhar e uma força, que surpreende, inspira e me faz questionar, lutar e querer escrever por elas, por seus pais e por todos que estão vivendo sem ajuda e sem dignidade ainda, apesar das mesmas promessas e dos mesmos olhares.