Matar o ano velho
No supermercado, a moça do caixa passa o cartão e agradece ao cliente com um ritual "Feliz novo!". Em um encontro casual com um conhecido na rua, numa loja, também se torna comum, nesta época do ano um "Feliz ano novo".
Muitas são as felicitações, todavia o que muita gente esquece é que o ano só será novo se o ano anterior tiver realmente passado. É preciso fechar portas, é preciso encerrar o ano velho.
Encerrar o ano velho significa fazer um balanço e trazer para o ano novo a coragem e a disposição para começar tudo de novo. As experiências antigas são apenas os troféus (bons ou nem tanto), pois a vida continua, ou melhor, começa de novo.
Há pessoas que não começarão de novo, pois morreram nos acidentes das rodovias neste final de ano, mas há outras que já morreram há tempo. Estas não sonham mais, não têm coragem de errar e vivem um dia após outro sem novidade diante da vida.
Por isso é preciso matar o ano velho. Nenhum indivíduo é o mesmo de um dia para o outro, já dizia o filósofo, então por que insistir em viver na redoma?
Matar o ano velho significa começar tudo de novo e isso significa também renovar algumas coisas: casa, roupas, amizades, assuntos, reclamações (que tal reclamar de outras coisas?).
Matar o ano velho é desgrudar das picuinhas guardadas, revelar-se pronto para novos desafios. Vencerá alguns, perderá outros obviamente, mas precisa matar o ano velho.
Assumir nossos próprios erros também mata o ano velho, pois os outros não podem ser culpados pelas nossas impotências, inclusive, assumir que não somos potentes o tempo todo é aceitar a condição de humano, é acertar as contas passadas e efetivar novas transações.
Feliz ano novo é matar o ano velho.