Um abraço de onça
Contava meu pai que certa ocasião campeando com meu avô, lá pelos sertões do Ceará, acoaram uma onça, não muito grande mas já de tamanho que impunha respeito.
Na fuga, a bichana entrou no ôco de um pau. Meu avô passou a cutucar de um lado e gritou pro meu pai: "Não deixa a onça passar, moleque!". No desespero do encurralamento a dita felina avançou para o meu pai, que prostado estava no outro lado do tronco. Não lhe ocorrendo outra saída, meu paí se agarrou com a bichana de tal forma que não se atreveu repetir jamais. Do que aconteceu nesse momento nunca conseguiu se lembrar depois, a não ser o grito do meu avô: "Tá doido, moleque? Solta essa danada! Ela pode te matar..."
Quando nos contava isso, meu pai sempre deixou claro que o episódio passou muito longe de ser um ato de bravura; que aquela decisão estava totalmente comprometida com a certeza de que uma desobediência à uma ordem do meu avô traria castigo muito mais danoso que um "abraço de onça".