PROMESSAS DEMAIS
'Até parece que foi ontem!'
Não é assim que as pessoas costumam dizer?
Pois é, parece que foi ontem , e foi mesmo. Ontem, 31 de dezembro de um ano velho. O Velho 2011. Velho de promessas. Velho de estado de espírito. Velho de acontecimentos pra lá de bizarros, surrados, mal vividos.
E a gente ali: só nas promessas. Promessas de emagrecer, de harmonizar com o familiar ausente há muito tempo. Promessa de se entender consigo mesmo. Promessa de iniciar um regime espiritual, o qual inclui - primeiramente - perdoar àquela pessoa que puxou o nosso tapete de forma imperdoável ou dizer umas verdades àquela figurinha insuportável, que adora ser a expositora-vomitadora dos próprios pensamentos desgastados, surrados, malhados.
Entretanto, os que prometem e cumprem o prometido devem se orgulhar de pôr em prática o propósito idealizado, realizado.
Nada melhor do que olhar no próprio espelho e ver refletida a imagem da verdade, da sinceridade, da autenticidade, pois isso amplia a nossa idade, a caminho da prosperidade e antecipa a posteridade, imagina-se. Diante desse circunstancial, ele tinha prometido a si próprio não mais engolir sapos (pelo menos quando esse prato indesejável fosse possível não ser degustado). E levou a sua palavra às últimas consequências, ao dizer - curto e grosso - a um amigo que adora dizer o que pensa e não ouvir o que sequer sentença.
Ao dizer, doeu nos ouvidos de ambos. Mas o que disse se sentiu muitíssimo melhor na primeira vez, após anos e mais anos aturando os desaforos do Dono da Verdade Total e Restrista.
A amizade - indubitavelmente - ficou abalada, mas o que levou o compromisso à realidade sentiu-se leve, leve, como uma folha de papel branca, solta, translúcida a ir livre, livre em voo inimaginável pro céu. Do outro (o ouvinte desta vez obrigatório) não se sabe muita coisa, apenas que segue remoendo o discurso do replicante, o qual tornou esse tal ouvinte num escutante domesticado de carteirinha.
Vingança benigna! Pro bem de um, crescimento do outro. Aprofundamento de ambos.
Como se vê, promessas nunca são demais. Desde que não nos tornemos apenas os 'leva-e-traz'.