MORTE DE ABSALÃO
Absalão, filho do rei Davi, por circunstâncias da vida, sem maldade no coração contra o pai, terminou por ficar numa postura de confronto. Tudo porque não existiu no coração de Absalão o dom do perdão e terminou por vingar a honra da irmã matando seu meio irmão. Agora estava em guerra com o pai onde os seguidores de ambos se digladiavam.
Davi não queria a morte de Absalão, também o amava, mas a guerra estava acontecendo e as pessoas que defendiam o rei, que estavam sempre próximos dele, se expunham à morte. Que fazer em tal situação?
O rei devia com energia propor uma trégua entre as duas facções. Joab o seu general deveria se encontrar com Absalão na presença de Davi e deporem as armas. O rei deveria mostrar que seu objetivo era o de viver em harmonia com ambos os povos, tanto os que seguiam a Absalão, quanto os que seguiam a Joab e que agora se digladiavam pelo direito de ficar com a coroa com exclusividade. Deveria dizer que o seu objetivo ainda era mais amplo, como de qualquer realeza; era o de agregar junto ao seu reino todos os povos que com ele tivesse sintonia, com seus pensamentos, com suas crenças. Deveria reforçar que essa trégua proposta era para diluir o medo que invadia as duas facções, que não existia o interesse real de se livrar de ninguém e sim de harmonizar com todos, com os presentes e com todos aqueles que poderiam chegar.
Caso essa trégua não fosse praticada o desfecho seria a morte de Absalão ou de Davi/Joab, como aconteceu. Absalão terminou por se enredar sozinho no meio da floresta e sua cabeça ficou presa entre os galhos de uma árvore. Os homens de Joab, mesmo temerosos, dele se aproximaram e tiraram sua vida, afinal eram inimigos. Mesmo assim, era o filho querido do rei!
Como levar agora a notícia, boa e ruim ao mesmo tempo? Foram escolhidos mensageiros especiais para essa tarefa, para transmitir o acontecido com todo o cuidado. Apesar disso, o rei se sentiu atingido, ferido no âmago do seu coração. Chorou e lamentou o ocorrido. O seu exército, comandado por Joab, voltou à cidade em silêncio, coberto de vergonha como se tivesse fugido de um combate. Enquanto isso o rei acabrunhado dizia em alta voz: “Meu filho Absalão! Absalão, meu filho, meu filho!”.
Joab incomodado procurou o rei e disse-lhe: “Tu cobres hoje de confusão a face de todos os teus servos que salvaram a tua vida, a vida de teus filhos e filhas, de tuas mulheres e concubinas. Tu amas os que te odeiam e odeias os que te amam, e mostra que os teus chefes e teus servos nada valem para ti. Estou vendo que te darias por satisfeito se Absalão vivesse e nós fôssemos todos mortos! Vamos: sai e dirige aos teus servos palavras de reconforto, pois juro-te por Deus que, se não o fizeres, não ficará contigo esta noite homem algum. E isso será para ti uma desgraça maior do que todas que vieram sobre ti desde a tua juventude. (II Sm 19, 1-7).
Não percebia Joab que Davi já estava desgraçado. A sua intenção de viver em harmonia com quem amava foi destruída. Seu objetivo de vida se perdera. Ele poderia continuar a viver no corpo físico, como viveu, mas sua alma jamais seria a mesma. A trégua que ele não propôs seria a única forma de ter evitado esse desastre. Agora, o que ele poderia ter construído com amor, com harmonia, entre todos ao seu redor, sendo um centro de irradiação do amor divino entre todos, não iria mais ser possível. Todos perderam! Esse projeto de harmonização entre povos com interesses antagônicos deveria esperar por outras pessoas, outras circunstâncias; outro tempo, outra cultura.
(Produzido em 19-09-11)