Isto aconteceu de fato (Parte 2)

Quarta-feira, 22 de Dezembro, dia de varejão, dia de carregar sacolas de hortifrutigranjeiros, após o almoço. O calor sufoca deixa tudo mais seco, até a vontade de sair na rua fica murcha, como boca de nenê ou de velhote desdentado! O que é isso? Pare de choramingar e vá logo fazer o que você combinou. A voz da minha consciência me deu um puxão de orelha. Banho tomado, forças renovadas... Lá vou eu para o encontro surpresa com as palavras na Praça do Terminal Central de Integração!

A população passa ao meu lado numa correria sem fim. Encontro com as minhas amigas e nos abraçamos em um gesto de afetividade. Um cartaz colado no pilar da barraca armada em um canto da praça anuncia:

“Venha escrever o seu cartão de natal com as Voluntárias da Escrita.”

Em outro cartaz, mais adiante, o anúncio dizia: “Os cartões são distribuídos gratuitamente!”, e, estava assinado pelas “Amantes da Literatura! “

Sentamos e espalhamos os cartões de natal pelas mesas. Ao meu lado a Lúcia recorta motivos natalinos para a confecção de mais cartões. Começamos a receber com carinho as pessoas para a escrita das mensagens natalinas.

“Professora escreva para a minha mãe que estou com saudades de comer a buchada de bode, que só ela sabe fazê, e, também de ir com ela na feira de Caruaru para comprá os material que vai na buchada. Escreva que eu estou no corte da cana e se conseguir juntar um dinheiro vou pra lá ano que vem. Mande um beijo pro pai e pra minha parentaiá, toda."

O moço levanta estende a mão, olha o cartão com um sorriso no rosto e fala:"Obrigada, moça pelo seus escrito!”

Alguns cartões foram escritos e chega uma emissora de televisão para fazer uma entrevista. Continuo a escrever e deixo Aracy e Leda conversar com a jovem repórter. Perguntas e mais perguntas... Enquanto isto, Lúcia me ajuda a colar e a fazer mais cartões, neste momento ouvimos a repórter perguntar sobre a escrita dos mesmos.

Um dos moradores de rua chega devagar e pergunta para outro:

“O que está acontecendo?”

“Parece que estão escrevendo cartas!”

“Cartas? Que perda de tempo, isto é coisa do passado, alguém precisa falar pra elas que agora é tudo por e-mail!”

Pergunto para a Lucia se ela havia escutado aquilo, Lucia confirma. Olhamos uma para a outra e caímos numa gargalhada!