UMA VIAGEM DE TREM PELO NORTE DO PARANÁ
Aconteceu nos anos 70. Eu, minha querida mãe e meu primo Toninho (sempre presente em quase todas as minhas aventuras). Viagem de Rolândia à São Paulo onde fomos passear na casa de parentes. Saímos de Rolândia por volta das 21 horas. Tinha na época 16 anos. Tudo nesta viagem foi maravilhoso. Foi a minha primeira viagem de trem. Lembro-me da ansiedade até que o trem apareceu com aqueles faróis poderosos, soltando fumaça e aquele barrulhão do motor. Meu coração acelerou. O chefe da estação que portava um bonito quepe bateu o sino de bronze anunciando oficialmente a chegada do trem. Embarcamos. Minha mãe ( que era a primeira vez que viajava sem a presença do meu saudoso pai) acenava chorando ao início da marcha do trem. O chefe da estação bateu mais uma vez o sino e o trem e o trem partiu devagarzinho. Ficamos olhando o meu pai e irmãos na plataforma da estação até sumirem. Mal começou a viagem a minha mãe pegou um rosário e começou a rezar pedindo proteção para a viagem. A preocupação dela era que o meu tio João não estivesse esperando na Estação Sorocabana em São Paulo. Por volta da meia noite fiquei entendiado com a lentidão da viagem, e não conseguindo dormir com o balanço e barulho do atrito das rodas de aço nas emendas dos trilhos, fui até o vagão refeitório onde comprei uma revista. Sentei ao lado de uma das mesas para ler. Pedi uma bebida e um maço de cigarro. Minha mãe preocupada com a minha demora e já chorando achando que tinha caído para fora do trem, mandou o meu primo me procurar. Me encontrou lá no refeitório com toda pose, sentado, lendo, fumando e bebendo ao lado de dois garçons vestidos com ternos brancos. Sendo meu primo morador da roça ficou com vergonha de entrar ali, só acenou com a cabeça e voltou pra contar o que viu. Até hoje ele ri muito ao descrever esta cena. Ao amanhecer eu e meu primo fomos para o último vagão onde havia uma espécie de varanda. E fumando um cigarrinho íamos contemplando as belas paisagens. Os lavradores paravam de carpir ou arar a terra para acenar para nós. Nos sentíamos muito importantes ao recebermos estes acenos. Minha mãe continuava a rezar com o rosário na mão. Só parava para mandar o cobrador de bilhetes nos avisar para não irmos muito longe (como se isso fosse possível). A uma certa altura da viagem, já chegando em São Paulo, eu e meu primo ficamos na "paquera" em frente o vagão de sanitários. Estava encostado na porta do sanitário feminino quando, em uma curva, a porta abriu e eu fui arremessado para dentro. Acabei machucando a perna com o impacto no vaso sanitário (Ainda bem que não tinha nenhuma mulher lá dentro). Meu primo ri até hoje desta proeza. A viagem foi muito emocionante do começo ao fim. A parte ruim era aguentar o cobrador de cinco em cinco minutos querendo ver os bilhetes e os vendedores de revistas, jornais, sanduíches e pratos feitos. Eles passavam a todo instante gritando: - Olha o sanduíche... prato feito.. revistas.. (como coisa que a gente não sabia!...). Os caras eram reconhecíveis até no escuro. Portavam um paletó preto com o distintivo da RVPSC (Rede Viação Paraná Santa Catarina) e um quepe da mesma cor, com emblema de bronze. Pareciam uns generais. Interessante que eram todos gordos. Eu acho que ele mais comiam aquela comida do que vendiam. A viagem durou uma noite mais meio dia. A cada cinco minutos, quando enfim o trem embalava, tinham que parar... Mais uma estação. Daqui em São Paulo eu acho que havia mais de 1.000 estações. Nunca vi coisa igual. Mas enfim chegamos. Era mais ou menos 13:00 horas. Minha mãe quando viu o meu tio João nos esperando na Estação em meio a tanta gente só faltou pular em cima dele tamanha a alegria. Saímos com o meu tio, carregando malas enormes em meio a multidão. Com medo de me perder do meu tio andei levando uns safanões, pois mesmo sem querer acabei acertando as canelas de alguns transeuntes. E as malas antigas eram feitas de uma material que parecia casco de tartaruga. Doía muito a pancada. Nunca tinha visto tanta gente junta. Parecia um formigueiro. Pensava: haja trens para levar todo mundo. Já ao lado do meu tio minha mãe agora ia rezando agradecendo o sucesso da viagem. Mas, falando sério, foi a viagem mais emocionante que tive na minha vida até hoje. Dificilmente vou fazê-la de novo, pois nem mais trem de passageiros temos. JOSÉ CARLOS FARINA - ROLÂNDIA - PR.