O Craque do Futuro
Na ponte do Barreiro,gueto de muitos que vieram do interior do Pará e de outras localidades do país temos Carlinho,menino franzino de cor parda e olhos negros inquietos.Filho de dona Glória, a lavadeira e o pai desconhecido.Têm mais cinco irmãos e ele, com agora completos quinze anos, é o mais velho.
Não houve baile, não houve festa, não houve nada.No dia de seu aniversário, que foi em outubro passou cuidando de Martina pela manhã e pela tarde até meia noite, passou juntando latas e reparando carros no centro da cidade.
Carlinho tinha o sonho de ser jogador, frequentava um campo atrás dos correios ou nas ruas nas proximidades de sua casa.Todos diziam que ele era um driblador.Tão bom que ele era, que até a escola ele não mais frequentou, teve que ir cedo para o batente.
Logo aos dez anos foi para rua pedir esmolas, fazer carreto e aos treze ia e vinha com jornal e quando sobrava tempo ele ia praticar futebol.
Acostumado com dinheiro no bolso, diante das velhas e metodicas explicações do professor, que sempre reclamava dos atrasos, da roupa amassada, do material que não tinha, da mãe que não participava das reuniões, da insubourdinação e da dificuldade em aprender, o menino saiu da escola.
Carlinho nem deu bola, andava, jogava e agora já fumava.
Agora já bebia e chegava em casa fora de hora.
Não havia regra, não havia história, não havia muito o que fazer, pois já não se habituava a rotina de assistir.
Seus irmãos e suas irmãs crescendo, se perdendo no meio da rua, enquanto a sua mãe gastava o dinheiro com alguns homens nos bares e nas festas.
Anos passando o menino se infiltrando no meio de alguns coleguinhas, droga rolando e o medo esquecendo, talvez onde o sonho se perdeu. Agora ele já era dono de si, tinha uma garota que vivia por ali, ora era de um, ora era de outro, mas estava tudo em baixo da calçada.Afinal a sociedade, mesmo com tanta postura vive de coisas supérflua e imoral.
Mesmo sem casa, mesmo sem comer, mesmo sem roupas havia dignidade. Roubava, furtava, mas não matava. Até queria se ouvido, mas o Estado sequer para isso atentava.
Foi lá na ponte mesmo, parou um carro, fez refém uma moça e quando tudo parecia resolvido um disparou se ouviu.
O rapaz, que um dia foi um menino, brincou com latas e sonhou com papai Noel como uma criança, sem apoio do Estado morreu, ou melhor, foi apagado lembrado na história da rua como um dos futuros passados.