Antes do descortinar do tempo...
Antes do fechar das cortinas, me disponho refletir a respeito... Por certo, um pensar necessário muito mais ao meu próprio refletir, do que aos demais... O poeta não escreve para os outros. Escrever é uma necessidade sua, que aos olhos do outro pode tornar-se poesia. Bem, poesis, à parte...
Findar de ano seria isso, um fechar de cortinas?
Tal qual Drumond ao questionar quem decidiu cortar o tempo em fatias, também me pergunto: Afinal, por que tentar-se impor à infinitude do tempo, um ato finito? E, em decorrência disso, por que ao simbólico fechar de cortinas, uma neurose coletiva acomete tantos seres humanos?
Tenho percebido em meu cotidiano, que não dispomos de tempo suficiente para refletir. A propósito, no decorrer do ano, quanto tempo dispomos para meditar, pensar, refletir sobre nós mesmos, sobre o verdadeiro sentido do nosso ser e o nosso fazer? Talvez ao oportunizar tais reflexões, o fragmentar do tempo seja propício... Algumas pessoas, no entanto, ao realizar esse exercício, ao dar-se conta dos desejos não alcançados nesse pequeno recorte do tempo, frustram-se, deprimem-se e, infelizmente, algumas desastabilizam-se emocionalmente, ao ponto de atitudes extremas, pondo em risco a própria vida. Também por esse viés, outras querem resolver em segundos tudo que ficou por fazer e, impossibilitadas de sanar seus impróbios, insatisfeitas, ansiosas, acabam por afogar suas frustrações em excessos... excessos no espumante, no volante, nas exasperações no trato com o outro... Sobre isso, evidenciam os índices de violência...
Que pena!
Que pena não dar-se conta de que todo esse ritual, trata-se tão somente do virar-se a página do calendário... Que pena viver-se atrelado à regras impostas por um calendário... Que pena submeter sonhos a dias contados... Mas, especialmente, que pena seres humanos não reconhecerem-se protagonistas da própria história, independente ao tempo e às circunstâncias...
Se nos movemos socialmente, balizados por essa lógica temporal historicamente instituída, façamos desse momento, a oportunidade de refletir sim, sobre o que ficou incompleto, porém despojados do intuito de culpabilizar... Façamos isso com tolerância à finitude humana, para que possamos perdoar nossas falhas e aceitar nossas limitações... Assim, seremos capazes de colher rosas sem nos deixar ferir em seus espinhos, e ao reafirmar nossos propósitos, nos dispormos a aquecer o que ficou frio e semear amor onde ficaram vazios... Façamos também desse momento, especialmente, o celebrar de conquistas pessoais e coletivas, de afetos e de emoções que nas relações inter-pessoais se sentiu...
Enfim, esse é ainda o momento de reafirmar-se o compromisso do cuidado com a vida, com os sonhos e, solidariamente, com tudo que diz respeito à vida, no e do, planeta. Afinal, a vida não para... E, estamos a um passo de um momento tão mágico, quanto fugaz... no mesmo instante, ao fechar-se a cortina do ano em curso, o descerrar das cortinas do novo ano que se inicia, para que ininterruptamente, o espetáculo da vida continue...
Feliz 2012 e todos os outros que vierem!