Vou voltar ...

 
Ontem, quando a tarde já tomava corpo inteiro de mulher e o sol insistia em se manter brilhante com minguados e parcos raios de luz, eu atravessava a ponte de concreto em direção ao aeroporto Santos Dumont, pensando nas muitas coisas que vivi em tão poucos dias.
Por instantes, olhei para os tapetes do carro e percebi alguns grãos de areia, resquícios de recuerdos dos lugares inesquecíveis por onde passei.
Tratei de guardar na mente algumas últimas lembranças da terra mãe gentil que ultimava por deixar. Não vou esquecer da cidade, de um certo café, da travessia das barcas, do bom amigo e parceiro PC, dos grandes compositores e poetas com quem estive e da própria poesia, ser vivente facilmente encontrado nos quatro cantos daquele lugar tão bonito, onde outrora estive tão mais presente.
Mas eis que chegava o momento da partida e, com a orientação da algoz comissária de bordo, fui, vacilante, inseguro, nervoso, subindo passo a passo os degraus da escada, como se caminhasse para um patíbulo, construído só e unicamente para mim.
Afivelando-me ao assento numerado, dei uma última olhada para o Pão de Açucar, fiquei atento aos bondinhos que se cruzavam naquele exato instante e iniciei a curta e longa jornada de volta p’ra fria colina.
O pássaro azul de metal, por vingança, tal qual amante que se sentia abandonada, antes de tomar seu destino final ousou sobrevoar, com suas poderosas asas de aço, parte da região oceânica daquela “água escondida” de Niterói, insistindo em exibir a nobreza de um cenário ímpar, que Deus criou para Si, e de onde, ante Seus mais íntimos momentos de reflexão, certamente, extraiu inspiração para concluir o desenho derradadeiro de quaisquer outras belas regiões espalhadas pelo planeta.
E eu, grudado na poltrona dezessete, lá do alto, me extasiava com uma última visão daquele lindo cenário e, quase como uma promessa, murmurava as letras de uma antiga canção do Tom e do Chico Buarque : “ Vou voltar, sei que ainda vou voltar, para o meu lugar ...”.

Tinha que ser Natal todos os dias ...

 
Germano Ribeiro
Enviado por Germano Ribeiro em 30/12/2011
Reeditado em 31/12/2011
Código do texto: T3413659