Pinóquios virtuais
Jorge Linhaça
No monitor palavras gentis
Descem em linhas de pura poesia
Por trás do ecran os atos são vis
Ledos enganos e pedofilia
Ao contrário da fábula infantil do marionete de madeira, os pinóquios virtuais estão mais para o vilão da história, o Stromboli.
Manejam com desenvoltura os fios de suas marionetes, prometem sonhos da terra das mil delícias e arquitetam seus planos com astúcia.
Fosse eu aqui desfilar todas as máscaras dos pinóquios da internet e levaria horas discorrendo sobre o assunto.
Claro que há aqueles mais e os menos nocivos...estes últimos poderiam se alinhar naquelas "mentirinhas básicas" sobre idade, beleza, estado civil, condição financeira...e outras "cositas más"
A internete enquanto um instrumento de comunicação democrático tem também o seu lado mais obscuro já que o mundo virtual, assim como o real é habitado por seres humanos das mais variadas índoles e estirpes.
O maior perigo reside justamente naquele velho ditado que diz que "papel aceita tudo" no caso da internete o teclado aceita tudo.
O usuário adolescente é o que está mais sujeito a esse tipo de armadilha...é a fase da vida em que se busca aceitação para tudo, em que é importante participar de um grupo com os mesmos interesses...a carência de auto-estima é um terreno fértil para a ação dos pinóquios de plantão. Claro que isso não se restringe apenas aos adolescentes, afinal todos nós em algum momento de nossas vidas estamos sujeitos a momentos de carência que nos podem levar a tornarmo-nos vítimas dessas circustâncias.
Menos mal quando a coisa fica no caso de "paixonite aguda" que depois revela-se bem diferente do imaginado.
Fofocas e avaliações tendenciosas sobre pessoas e fatos também não faltam neste mundo virtual ( assim como não faltam no real ). A diferença é que o fofoqueiro virtual raramente tem rosto ou identidade e sequer conhece sobre quem está falando.
Existem os pinóquios marqueteiros que em época de eleições se desdobram em boatarias e na ressurreição de medos e temores antigos.
De forma viral tais e-mails se espalham pela internete com a força de uma multidão que caminhasse nas ruas levando cartazes. Acabado o pleito, imediatamente desaparecem os tais e-mails e notícias para só retornarem anos depois como se fosse alguma novidade.
Recentemente uma campanha contra a construção da usina de Belmonte, baseada num vídeo onde vários(as) globetes falavam dúzias de besteiras, foi confrontado por estudantes e especialistas em geração de energia, aqui mesmo na internet que derrubaram todos os falsos argumentos levantados pelos atores.
Aparentemente os internautas estão ficando mais espertos, ao menos aqueles que não se conformam em viver alienados como se a internete fosse um mundo de faz de conta para onde fugir quando a solidão ataca.
Por incrível que pareça, a reação foi de tal magnitude e inteligência que mesmo a Revista Veja publicou uma matéria sobre o assunto detonando os globetes.
Antigamente a classe artística era marginalizada exatamente por ser formada por pessoas que pensavam, pesquisavam, se inteiravam das coisas que aconteciam e contestavam as babaquices que os outros queriam fazer entrar pela goela abaixo do povo.
Hoje parece-me que, com raras excessões, talvez por excesso de trabalho ou deslumbramento, essa mesma classe contenta-se em papagaiar o que ouviram dizer e que parece que pode trazer maior simpatia das pessoas.
Esse é um dos perigos do tempo do "politicamente correto", as pessoas deixam de pensar por si mesmas e marcham em ordem unida qual soldadinhos de chumbo.
"Politicamente correto" alguém já pensou no que isso significa?
Em linhas gerais quer dizer que tem que se concordar com tudo e com todos, formando uma geração de "Maria vai com as outras".
Marionetes sendo manipuladas pelos Strombolis de plantão.
A pedofilia encontra na internete um campo fértil para os predadores sexuais, salas de bate papo, sites de relacionamento, redes sociais...milhões de oportunidades para se encontrar uma vítima.
Basta montar um falso perfil, fingir-se de adolescente, usar a lábia de quem já tem alguma experiência de vida e logo alguém se joga de cabeça na arapuca armada.
Já imaginaram quantos casos ficam "desconhecidos" para cada um que é levado a público ?
Quantos adolescentes são dados como desaparecidos sem que se consiga desvendar o seu caso não estarão ligados a esse tipo de crime ?
Pior são as pessoas que acreditam em tudo que veem ou leem, em qualquer vídeo do you tube ou e-mail por mais mirabolante que seja.
Resta-nos apenas o cuidado cada vez maior com o que lemos e com o que vemos ou ouvimos neste mundo virtual.
Muitos desses pinóquios jamais virarão "meninos de verdade" tocados pela magia da fada azul...pelo contrário, assumirão a aparência de monstros à espreita dos incautos.
Salvador, 29 de dezembro de 2011
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