O beijo está em crise
-“Ontem (sexta-feira) eu beijei dezoito, hoje, até agora 20h, eu já beijei seis”, respondeu, muito empolgado, um jovem folião a um repórter de um telejornal que lhe perguntara quantas mulheres já havia beijado desde o início de um dos carnavais dos anos 2000.Assim,o beijo perde seu valor e conteúdo original para se transformar em competição entre os jovens, em bailes diversos.
Como tantos outros costumes ,o beijo também foi banalizado. Beija-se por beijar, para fazer número. Já que os números são frios, que o beijo também, seja frio, insosso, insípido, de modo que não alcance o coração da alma.
Não faz tanto tempo, beijar na boca era demonstração de forte afetividade e até de compromisso. Somente havia beijo na boca se houvesse reciprocidade afetiva entre o casal. Beijar na boca era como dizer: “eu te aceito”, “eu gosto de você”.Por isso, gerava mistério, encanto. Ia-se às nuvens com a troca de um beijo. Passava-se a semana toda com o sabor do beijo na boca e com a lembrança da pessoa amada na mente. Havia até dias específicos para se ir à casa da namorada.Havia hora para chegar e para sair.Ficar na casa da amada até às dez da noite,já era motivo para os pais ficarem de "orelha em pé".
Era com ansiedade que se aguardava a chegada do sábado e do domingo para ir renovar os mágicos beijos, porque o próprio tempo trabalhava como elemento de valorização e desejo de renová-los. Até havia uma frase mostrando a importância de se beijar na boca – “beijo na testa é carinho, beijo no rosto é respeito, beijo na boca é amor”.Beijar na boca era algo tão sério que não se beijava na frente dos pais, raramente alguém se beijava em público.
Os meios de comunicação, principalmente a televisão, têm uma grande parcela de culpa na banalização não só do beijo, mas também da sexualidade, especialmente entre os jovens.
Há, ainda, um outro problema grave envolvendo o beijo. Segundo especialistas ligados à área de saúde “o beijo na boca pode transmitir várias doenças, inclusive, as sexualmente transmissíveis. As pessoas trocam saliva, sais minerais e uma grande quantidade de microorganismos, muitos deles causadores de doenças tais como - cárie, gengivite, faringite, laringite, herpes labial, mononucleose, hepatite A e B, HPV, uretrite, candidíase, gripe, tuberculose, sífilis e gonorréia. Se o beijo acontece entre duas pessoas que apresentam sangramento na gengiva ou qualquer ferimento na boca, o HIV pode penetrar na corrente sanguínea”.
Assim, o beijo indiscriminado pode colocar em risco a vida de quem sai beijando a torto e a direito por aí,pois quem vê cara, não vê doença - quem está sadio ou não.Então, a melhor receita seria ser fiel a uma só boca. Assim, caso se venha a contrair alguma doença, nossa consciência de pronto fará a seguinte defesa -“ pelo menos, "peguei" essa enfermidade de uma pessoa a quem amo!
Um pedra pedra preciosa é valiosa justamente por sua raridade,por ser incomum.Quando algo ou alguém se banaliza,perde-se o valor e a essência.Em tempos de banalização de sentimentos e comportamentos,o beijo,um das mais expressivas formas de manifestação de amor,passa por dois sérios problemas: A perda de sua essência e valor e o risco de provocar sérias e múltiplas doenças. Sem dúvida,pode-se afirmar,com tranquilidade, que o beijo "anda" doente.
Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues