Meu filho terá um nome agradável e incomum.
Há pessoas que reclamam de terem recebido dos pais um nome feio, estranho ou incomum (às vezes chamado de “diferente”). A insatisfação, o constrangimento e o trauma são tão grandes que já foi criado uma lei que autoriza a mudança de nome quando atingido a maior idade.
Até que concordo plenamente com essa lei. Pois seria difícil ser chamado de “Abxivispro Jacinto”, “Asteróide Silvério”, “Ava Gina”, “Bucetildes”, “Chevrolet da Silva Ford”, “Jacinto Leite Aquino Rego”, “Última Delícia do Casal Carvalho”.
Contudo ter um nome muito comum, por exemplo, Daniel, Alexandre, Ricardo, José, Maria, Vera, também não é fácil. Vou explicar o porquê. O nosso nome é aquilo que nos identifica, que nos define, que define a nossa cultura, o nosso país, ou seja, é a nossa marca registrada, por isso gostamos de ter um nome agradável e ser chamado por ele.
Da minha geração, o meu nome André, é muito comum. Chega a ser tão comum que havia e há três ou quatro nos ambientes que convivi e convivo. Daí o problema. Como todo problema tem de ser resolvido, a solução são os apelidos, os adjetivos ou os sobrenomes. Isso significa que durante muito tempo fui e sou chamado de diferentes nomes. Vamos relembrar.
Na época da escola era o número que me diferenciava. “O André tirou dez.” “Que André?” “O número três”. “Coloque o nome do André no trabalho.” “Qual é o número desse André?” Vinha a famosa pergunta.
Como morava numa vila de casas, cuja denominação era “vinida”, fui chamado também, pelos colegas, de “André da vinida”. Isso me fez lembrar de outro apelido: “Goleirinho”, pois meu pai era chamado de Goleiro devido as grandes atuações no time de pelada. Ainda tinham os diminutivos: “Andrezinho”, “Dezinho”, “Dequinho”, os aumentativos: “Andrezão”, “Dezão”, “Decão”, as abreviações: “Dé”, “Dedé”, “Deco”, “Dedeco”.
Cresci um pouquinho e fui jogar bola. No primeiro clube que joguei não foi muito diferente. Lá foi o sobrenome que me denominava. Fui chamado de “Gomes” por muito tempo. No início foi estranho, mas depois me acostumei.
Cresci mais um pouco, tornei-me um HOMEM e cheguei ao mercado de trabalho. Logo na primeira empresa fui chamado de “Ferreira”, meu outro sobrenome. Este marcou, pois até hoje tem amigos meus que ainda me chamam assim. Coincidentemente, tenho um vizinho hoje que trabalhou comigo nessa época, Ele só me chama de “Ferreira”.
Na segunda empresa, enfim, fui chamado de André somente. Isso só aconteceu porque era, dos Andrés, o funcionário mais antigo; portanto prevaleceu o tempo de casa.
Alguns anos se passaram, larguei o comércio e fui trabalhar na Educação. Os tempos mudaram, agora estamos na geração do Matheus com “h”. Não passarei mais por esse problema – pensava eu. No primeiro Colégio Estadual em que fui trabalhar havia quatro Andrés. Passei pelas mesmas dificuldades de identificação. Mas nada que o sobrenome não resolvesse novamente: André Vinícius, André Pimenta, André Ferreira (esse sou eu) e André Miranda.
É pessoal, se eu não fosse uma pessoa centrada emocionalmente, tinha tido crise de identidade. Por isso meu filho, quando nascer, terá um nome agradável e incomum – se até lá achar um.