LEMBRANÇAS DE UM PASSADO DISTANTE

Alice entrou apressada e foi logo perguntando:

- Alguém achou uma nota de cinco cruzeiros que deixei cair aqui?

Naquele momento, na fabriqueta de calçados, encontravam-se apenas eu, o Dirceu e mais dois garotos recem contratados, que deviam ter a minha idade ou talvez fossem um ou dois anos mais velhos.

Ninguém se manifestou. O Dirceu que já andava pela casa dos 20 anos e era o funcionário mais antigo, perguntou:

- Deixou cair aqui?

- Acho que sim. Lembro que foi aqui que guardei a nota entre meu corpo e o cinto, quando cheguei em casa não estava mais. (a fabriqueta se situava no porão da casa).

Afastou-se desconfiada, como se algum de nós a tivesse encontrado e não quisesse devolver.

Depois de algum tempo, percebi a nota no chão, próximo a um canto da parede.

O Dirceu viu quando me abaixei para apanhá-la e num tom que mais parecia uma ordem, perguntou:

- Vai devolver né?

- Claro! Respondi.

Nisso entrou no salão Dona Rosa, uma senhora gorda e ranzinza que era a dona da fabriqueta de calçados e mãe da Alice.

Todo empolado fui ao seu encontro e apresentando-lhe a nota falei:

- Dona Rosa, acabei de encontrar no chão esta nota de cinco cruzeiros que sua filha perdeu aqui.

Dona Rosa pegou a nota e talvez querendo fazer um agrado aos funcionários recem contratados, a entregou a um deles recomendando:

- Divide com o Toninho, 2,50 pra voce, 2,50 pra ele (Toninho era o outro garoto).

Dona Rosa, se afastou balançando seu pesado corpo em direção a um cubículo que ficava no fundo do salão e que chamavam de escritório

Eu que esperava uma gorjetinha fiquei parado no meio do salão com a maior cara de bobo do mundo.

Devia ter esperado e devolvido para a filha, pensei...

Durante várias semanas fiquei remoendo a sacanagem de D.Rosa!

Pererê
Enviado por Pererê em 27/12/2011
Reeditado em 25/03/2012
Código do texto: T3409304