Os Malabaristas e a Bolsa Louis Vuitton
Sexta, 10:30 da noite, estou num ponto de ônibus da Avenida Juscelino Kubitschek esperando minha condução e noto que os três pivetes que havia visto a pouco tempo fazendo malabarismo no farol, se aproximam de onde eu estou.
Falam e riem alto. Não demora e estão próximos de mim. Ergo o meu muro de defesa; calculo a distância até o outro lado da rua e penso até em acenar para um táxi, mas permaneço inerte, esperando o primeiro movimento suspeito dos garotos para agir.
Eles parecem não me notar, até que me afasto um pouco para avenida e um deles percebe que estou com receio de ser assaltado.
- Roubamos mesmo!!! – grita o rapaz bem alto – Ontem mesmo roubamos um boyzinho, e distribuímos a grana pros amigos – diz o Robinho Hood querendo me assustar, mas estava bem visível, que ele dizia aquilo só para me provocar e porque se sentiu ofendido com o meu movimento.
Olho para os outros meninos e eles contam o dinheiro que ganharam no farol. Aparentemente, não há nenhum adulto os explorando (exceção, pois é o que ocorre em 99% dos casos), e um deles fala baixinho : “ mais uma semana de trampo e compro um Play Station”. Lembro de um quadro humorístico da 89 Fm de São Paulo, “Os Manos”, onde há uma personagem que só pensa em conseguir um Play Station e acho graça.
Mas a graça dá lugar a vergonha, pois julguei os moleques e no final não era nada do que imaginava, mas estou em São Paulo, e desconfiar dos outros é tão comum quanto ficar preso no trânsito.
O ônibus chega, subo e sigo o meu caminho...
Sábado, 16:30, estou no Shopping Morumbi, tentando achar a única loja que importou o novo CD da Loreena McKennitt, minha vocalista de World Music preferida, e pego uma fila para pagar o CD no caixa. Á minha frente tem um casal, e espero a minha chance de pagar uma pequena fortuna por esse CD importado, que só deve chegar no Brasil em Dezembro. A mulher, cheia de sacolas e com sua bolsa Louis Vuitton no ombro dá um passo pra trás e esbarra em mim. Ao invés de pedir desculpa, ela me olha desconfiada e tira a bolsa do ombro, põe a frente e abre, checando se há algo faltando. Não era mal entendido, ela estava achando mesmo que eu tinha aberto a bolsinha dela durante o momento em que estávamos na fila e tirado algo.
Meu coração começa a bater mais depressa, minha respiração fica descompassada e eu estou à beira de começar uma discussão. “ Quem aquela @#$% pensava que era, para achar que eu sou um ladrão? “ penso com razão, afinal estava me sentindo humilhado por aquela dondoca; mas me vem à mente a experiência no ponto de ônibus. Revejo a cena, e lá estou eu prejulgando “os malabaristas”.
Irônico, não?
Por fim, pago o meu CD, vou-me embora, mas começo a rir, afinal a melhor forma de aprendermos como ferimos as pessoas com nossos preconceitos é sentindo isso na nossa própria pele.
Frank Oliveira
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