HISTÓRIA DE UMA GREVE NÃO DECLARADA

A notícia de que haveria um Pólo Petroquímico na Bahia com promessas de bons empregos e melhores salários deixou a população numa expectativa angustiante. No ano de 1976 foi aberto o concurso da COPENE – Petroquímica do Nordeste para empregar mão de obra. A COPENE seria uma empresa estatal subsidiária da PETROQUISA (Petrobrás Química S.A.) e as inscrições para o seu concurso foram muito cobiçadas em Salvador. Naquele tempo as inscrições para concursos eram gratuitas e indicavam as necessidades da empresa em promover a sua mão de obra. Difícil entender qual foi o tipo de regressão que fez com que as pessoas hoje paguem para trabalhar. Acredito que por alienação do próprio povo.

A COPENE era o verdadeiro eldorado e todos sonhavam em participar de tão grande empreendimento nacional. Inclusive aqueles que ficaram de fora, que não lograram ser contemplados com o concurso e aqueles que não chegaram a faze-lo, ficaram a morrer de inveja dos que conseguiram fazer parte de tão nobre empresa.

Após os resultados do concurso, aqueles contemplados tiveram que fazer um curso de especialização, equivalente a um curso de segundo grau, no Edifício Pentágono que ficava situado na Avenida Araújo Pinho, no bairro do Canela, em Salvador.

O curso era remunerado e muito sério. Os educadores eram bastante rígidos: um verdadeiro regime militar. Havia muita pressão, proibições e ameaças de serem expulsos aqueles que manifestassem qualquer opinião contrária às regras impostas pela empresa.

Terminado o curso, que teve uma duração de seis meses, o pessoal foi dividido em turmas para estagiar. Uns estagiaram na Refinaria Landulpho Alves de Mataripe, outros na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, outros na COPERBO da cidade de Cabo em Pernambuco, outros na Refinaria de Paulínia no estado de São Paulo, outros na Petroquímica União de Mauá no estado de São Paulo e outros, na Refinaria Duque de Caxias no estado do Rio de Janeiro.

Durante esse estágio muitos foram demitidos por mau comportamento e falta de observação às regras da COPENE. Mas, no geral, a maioria foi contemplada e voltou para se preparar para a partida da empresa. Foram mais alguns meses de estudo de campo. Todos que firmaram o contrato com a empresa tiveram que assinar um documento impedindo de sair da empresa por um período de 5 (cinco) anos. Aquele que desejasse sair do emprego teria que pagar todas as despesas que a empresa teve com o curso e o estágio.

No retorno do estágio todos os novos funcionários retornaram para a COPENE para estudar as áreas “in loco” e enfrentar as truculências da chefia, pois a COPENE era uma empresa estatal, por isso gerida indiretamente pelos generais que governavam o país.

Vieram para a COPENE vários operadores de outros estados principalmente das refinarias do sul do país para tomar a frente junto aos novos operários baianos. Esse pessoal chegou ocupando cargos de chefia. Eram operadores III, chefes de laboratório e supervisores que nos chegaram como pessoas experientes. Esse pessoal costumava dizer que na época da partida iriam acontecer acidentes fatais, pois esse pessoal subestimava os trabalhadores baianos.

Aconteceu totalmente o contrário. Na época da partida da primeira petroquímica do leste do país os trabalhadores baianos foram elogiados pelo trabalho e pela segurança com que partiram a fábrica. E com a fábrica operando, a chefia entendeu de perseguir e maltratar os empregados que não se dobravam para tantas ameaças e truculências. Parecia que eles queriam escravizar os trabalhadores.

Como o baiano nunca foi de se humilhar para ninguém, aconteciam diversos conflitos no seio da empresa gerados pelas insatisfações. Mas a empresa continuava operando cada vez melhor e sem problemas.

No ano de 1979, na véspera de São João, com tanta insatisfação, resolvi esfriar a cabeça e passar o São João em Cruz das Almas juntamente com alguns colegas que também “queimaram” dois dias de trabalho, sem me importar com futuras represálias.

Fomos a Cruz das Almas. Aquele festão, um fumaceiro insuportável, os olhos vermelhos de tanta fuligem, espadas nas ruas, muito licor e comidas típicas da época. Assim mesmo deu para curtir a festa e esquecer dos problemas diários.

Ao retornarmos a Salvador, voltando para o trabalho, constatamos que 90% da turma tinha tido a mesma idéia e a empresa funcionou com as pessoas que haviam continuado na fábrica dobrando o turno. Realmente pude constatar que a insatisfação era geral. Não houve combinação alguma entre nós funcionários para queimar os dois dias de trabalho.