A HISTÓRIA DE ANA

- Quem disse que ela iria ficar satisfeita?

- Aquela criatura sempre fica insatisfeita com alguma coisa!

Esses eram os comentários tecidos acerca de uma pobre mulher que vivia à margem da sociedade. Era uma mulher sem cuidados e os poucos interessados por ela eram seus companheiros de rua.

Ana tinha um olhar decaído, um semblante pesado, um ar de quem estava constantemente triste.

Também, quem aguentaria passar por todas as intempéries desta vida e ainda estar residindo na rua, repartindo cobertores improvisados com seus companheiros de batalha?

Esta é a vida de Ana.

Me pergunto:- Por que estas coisas acometem um ser humano feito à imagem e semelhança de Cristo?

Respostas mil me vêm à mente, mas procurei fixar-me numa suposição mais, digamos, coerente. Acho que Ana sofre tanto assim nesta vida, para poder sentir um pouco da dor que Cristo sofreu pela humanidade.

Sempre vivo divulgando aos quatro ventos que Deus não é injusto para dar ombros fracos para quem carrega fardos pesados. Ele faz justo o contrário: dá fardos pesados à ombros fortes, pois sabe que teremos condições para suportar.

Nosso manual de instruções foi feito por Ele. Então não adianta questionar o Criador, uma vez que somos apenas criaturas, obras de Suas mãos e nada mais.

Mas, retornemos à história de Ana. Ela tinha uma vida quieta e sossegada, juntos aos seus pais. Todavia, achou mais conveniente andar com suas próprias pernas, curtir a vida, degustar o saborzinho do mundo, quebrar as amarras das rédeas impostas por seus responsáveis, e daí, a vida (que não brinca de viver), aplicou-lhes alguns golpes certeiros, onde foram duramente encravados na alma daquela pobre mulher. Mulher esta que hoje se encontra lançada à rua. Rua da amargura, rua do desassossego, rua de vergonha, rua da pervesidão, rua da tristeza.

Festas não frequenta mais. Difícil roubar-lhes um sorriso de sua face. O amargor da vida furtou-lhe este privilégio.

Uns quatro filhos para criar não lhes deixam quieta um instante sequer.

É, a rua ensina pelo menos a parir. Parir, parir! Vidas sendo lançadas no mundo velho e enganador que engole tantos sonhos que jamais virão a se tornar realidade.

Nossos atos de hoje, cooperam para a colheita do amanhã.

Dá-me uma certa dor n'alma quando sento, observo e contemplo a angústia de Ana. A alma dela grita, brada, esperneia e desequilibra a estrutura frágil do sexo forte, chamado mulher.

Não quero entrar no mérito de decifrar pessoas, mas apenas observar

seus comportamentos, suas escolhas, seus estilos de vida, seus gostos e vontades, etc.. O ser humano é tão complexo, mas tão vulnerável simultaneamente. Eu creio que fomos criados desta forma para não batermos no peito e dizermos: Eu sou suficiente para mim mesmo!

Terrível conceito!Que nos diga Ana e sua história de vida.

As escolhas dela atingiram seu futuro e hoje ela encontra-se debilitada, vulnerável, enfraquecida e receosa do amanhã.

Esquece ela que o amanhã é construído hoje.

As pedras lançadas em nossa estrada, servirão de base sólida para um alicerce perfeito onde podemos descansar com tranquilidade.

Tranquilidade. Isto é o que Ana precisa. Onde encontrar a tranquilidade que ela tanto necessita? Perdeu-se ao vento!

Sonhos estremecidos. Sonhos ofuscados, apagados, escuros.

Novas conquistas e novos projetos de vida é o que essa mulher precisa, mas ela está tão fora de foco, de sintonia, que esquece de buscar uma saída. Acostumou-se com a miséria, com o duro labor da sobrevivência diária nas ruas, becos, esquinas e calçadas. Os insetos cheiram melhor que Ana. Acabou-se sua autoestima, o amor próprio, a busca pela beleza, o zelo, o trato, o cuidado. Hoje é só um caco de gente lutando à duras penas pelo pão cotidiano e rotineiro. Fácil não é, mas acreditam que ela já acostumou-se?

Li em algum lugar que o ser humano é altamente flexível e adaptável às mudanças. Tudo é uma questão de um fator denominado: t-e-m-p-o. Nos adaptamos facilmente e seguimos nosso rumo.

Ana está adaptada ao ciclo insano que escolheu. Está sofrida, mas abnegada à sua realidade. Não tem poder de decisão, mas apenas uma visão turva e embaçada na vidraça da vida.

Que as Anas sobreviventes saibam fazer melhores escolhas, trilhar novos caminhos e construir trilhos novos.

Muitas feliciades, nobre e guerreira Ana!

Seja feliz!

Contos e Encantos
Enviado por Contos e Encantos em 26/12/2011
Reeditado em 30/12/2011
Código do texto: T3407915
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