O texto sobre tudo
O texto sobre tudo
Que todas as pessoas possam ler, em qualquer tempo. Isso seria interessante. Dentro de alguns anos, ou dentro de alguns instantes, se você estiver em dúvida, pronto, seus problemas estão resolvidos. Basta ler o texto sobre tudo. Eis uma idéia que vale a pena patentear. “Já escreveram sobre tudo”, dirão. “Já está tudo pronto, basta ler”, dirão de outra forma. A partir deste instante e para para todo o sempre, disponível a todas as pessoas do universo, reunidas num só texto, a cura, a salvação, a libertação, a instrução, a dissolução de mágoas, medos, raivas, o texto sobre tudo explica didaticamente que medo é futuro, raiva é presente e ressentimento é passado. Formidável, esse texto. Ele ensinará como colocar detergente em panelas encardidas, isso na segunda parte, pois na primeira ensinará como encher a panela. As futuras terceiras idades do futuro dirão para seus descendentes: “Tive uma vida fácil e sem agonias, pois desde criança meus pais me deram para ler O Texto Sobre Tudo. E o meu era ilustrado...”.
Fenomenal, esse texto. O rapaz com problemas de urtigas já não sofre, a moça que se descabelava por causa dos nós nos cabelos hoje sorri, questões triviais, existenciais, abissais, colaterais, essenciais e o que mais possa a vã mente arquitetar ficam, desde já, com os minutos contados.
Entre outras coisas valorosas o texto (sobre tudo) explicará o que há por traz da diversidade da manifestação. Que vem a ser exatamente tudo, mas esse tópico fica para depois. No início será ministrada uma aula detalhada sobre os motivos dos chineses terem aniquilado em pleno século XX um milhão de tibetanos (que só rezavam), e outra aula acerca da quantidade de manteiga em doces como, a exemplo, o mousse de chocolate. Também teremos horóscopo fashion, previsão do tempo, noções de primeiros socorros, cotação de moedas estrangeiras, resultados de jogos de loteria, em especial os rateios futuros. O que significa que você pode se programar para ganhar na Lotofácil em 15 de janeiro de 2016.
Pessoas que se atormentam, pessoas que são atormentadas por outras pessoas ou pessoas que atormentam pessoas chegarão num novo patamar de compreensão, graças ao Texto. Sim, no futuro, ele será conhecido como O Texto. Haverá um alívio geral e simultâneo em todas as nações do globo e gentes de todos os credos e raças passarão a escrever furiosamente sobre todas as coisas porque alguém (um gênio), em algum lugar ( São Paulo), se deu ao trabalho hercúleo de escrever um texto sobre tudo. Assim, como Tudo já foi escrito, almas bem intencionadas e doravante livres de excruciantes cargas poderão escrever apenas sobre coisas. A mente humana estará liberta para planar sobre os detalhes do mundo e da existência.
E assim talvez, num dia qualquer perdido no tempo, alguém se dê ao trabalho de ler em voz alta:
“Por mais que tenhamos adentrado no campo da opressão, onde nossos arrependimentos incriminam, sempre retornamos à crença comum da qual todos descendemos – às mãos, aos pés, aos rostos. As crianças estão sempre lá e dão as mãos, mesmo quando apavoradas. Aqueles que amam não conseguem se decidir entre ir ou ficar. E o artista pede com bondade incomparável: faça com que eu encontre pureza em todas as coisas”.
(Que 2012 lhe traga Tudo de Bom)
(Imagem: Frederic Edwin Church, The Parthenon, Atenas, escova e óleo de giz preto em papel de creme fino, 1869)
O texto sobre tudo
Que todas as pessoas possam ler, em qualquer tempo. Isso seria interessante. Dentro de alguns anos, ou dentro de alguns instantes, se você estiver em dúvida, pronto, seus problemas estão resolvidos. Basta ler o texto sobre tudo. Eis uma idéia que vale a pena patentear. “Já escreveram sobre tudo”, dirão. “Já está tudo pronto, basta ler”, dirão de outra forma. A partir deste instante e para para todo o sempre, disponível a todas as pessoas do universo, reunidas num só texto, a cura, a salvação, a libertação, a instrução, a dissolução de mágoas, medos, raivas, o texto sobre tudo explica didaticamente que medo é futuro, raiva é presente e ressentimento é passado. Formidável, esse texto. Ele ensinará como colocar detergente em panelas encardidas, isso na segunda parte, pois na primeira ensinará como encher a panela. As futuras terceiras idades do futuro dirão para seus descendentes: “Tive uma vida fácil e sem agonias, pois desde criança meus pais me deram para ler O Texto Sobre Tudo. E o meu era ilustrado...”.
Fenomenal, esse texto. O rapaz com problemas de urtigas já não sofre, a moça que se descabelava por causa dos nós nos cabelos hoje sorri, questões triviais, existenciais, abissais, colaterais, essenciais e o que mais possa a vã mente arquitetar ficam, desde já, com os minutos contados.
Entre outras coisas valorosas o texto (sobre tudo) explicará o que há por traz da diversidade da manifestação. Que vem a ser exatamente tudo, mas esse tópico fica para depois. No início será ministrada uma aula detalhada sobre os motivos dos chineses terem aniquilado em pleno século XX um milhão de tibetanos (que só rezavam), e outra aula acerca da quantidade de manteiga em doces como, a exemplo, o mousse de chocolate. Também teremos horóscopo fashion, previsão do tempo, noções de primeiros socorros, cotação de moedas estrangeiras, resultados de jogos de loteria, em especial os rateios futuros. O que significa que você pode se programar para ganhar na Lotofácil em 15 de janeiro de 2016.
Pessoas que se atormentam, pessoas que são atormentadas por outras pessoas ou pessoas que atormentam pessoas chegarão num novo patamar de compreensão, graças ao Texto. Sim, no futuro, ele será conhecido como O Texto. Haverá um alívio geral e simultâneo em todas as nações do globo e gentes de todos os credos e raças passarão a escrever furiosamente sobre todas as coisas porque alguém (um gênio), em algum lugar ( São Paulo), se deu ao trabalho hercúleo de escrever um texto sobre tudo. Assim, como Tudo já foi escrito, almas bem intencionadas e doravante livres de excruciantes cargas poderão escrever apenas sobre coisas. A mente humana estará liberta para planar sobre os detalhes do mundo e da existência.
E assim talvez, num dia qualquer perdido no tempo, alguém se dê ao trabalho de ler em voz alta:
“Por mais que tenhamos adentrado no campo da opressão, onde nossos arrependimentos incriminam, sempre retornamos à crença comum da qual todos descendemos – às mãos, aos pés, aos rostos. As crianças estão sempre lá e dão as mãos, mesmo quando apavoradas. Aqueles que amam não conseguem se decidir entre ir ou ficar. E o artista pede com bondade incomparável: faça com que eu encontre pureza em todas as coisas”.
(Que 2012 lhe traga Tudo de Bom)
(Imagem: Frederic Edwin Church, The Parthenon, Atenas, escova e óleo de giz preto em papel de creme fino, 1869)