GANHOS E PERDAS EXISTENCIAIS – Uma ode a 2012.
 

Por Carlos Sena

 
Perdas e ganhos norteiam a existência. A lógica do ganho se exaure em si; a da perda se constitui, não raro, em angustias e solidão involuntária. Problema maior é quando o ganho se converte em perda, por absoluta falta de competência para manter virtudes (ganhos) alcançadas. O contrário deixa de ser problema: diante de perdas, há resiliência que se pode converter em ganho que nos eleva o espírito e consolida nossa alma calejada de batalhas existenciais.

Perder coisas é melhor do que perder sentimentos. Sentimentos como o amor, quando perdidos, nublam nossos dias, deixam-nos opacos. Coisas? - O dinheiro compra e a vida constrói. Quando isto não é possível ela (A VIDA) se justifica em si mesma pela nossa pouca capacidade de ajuste pessoal. As nossas perdas e ganhos tem relação direta com o positivo da vida que nunca é sem defeito e com o negativo que dificilmente deixa de ter virtudes. Afinal, não há mal que sempre dure nem bem que nunca se acabe. Há controvérsias no campo filosófico. Há questões conceituais a se considerar, pois a lei da relatividade parece ter em nossos sentimentos igual interpretação: o bem e o mal, o bom e o ruim norteiam a vida como Deus e o Diabo sem terra do sol... Em todos esses definidores de correntes existenciais, há perdas e ganhos. O homem é um só nesse meio de ideias e fatos que lhe cercam... As pessoas continuam sendo o ódio e o amor de si mesmas; a estrela e a opacidade de si mesmas; seu deserto e seu solo fértil. Cadência e decadência, falo e falência, aqui e aquiescência, conto e ponto do existir em plenitude!

Viver não é fácil como dizem. Viver se torna fácil quando a gente se revigora em nós. Quando a gente reescreve nossa “cartilha”; quando editamos códigos de ética particulares que nos permitam suportar os códigos sociais meio falso moralistas. Mesmo assim viver dá trabalho, exceto quando se vive em omissão. Neste sentido, viver passa a ser um fardo pesado, pois a vida real exige de nós posições definidas para que nos diferenciemos dos animais irracionais. Tudo bem, pois há homens que sabem da irracionalidade dos seus atos e se fingem de "mortos" para levar vantagens.

Alcançar o limite entre perdas e ganhos da vida é difícil. O próprio viver se encarrega disto, pois independe de nossas vontades o que acontece no “tempo da vida”. Esse “tempo” existencial nem sempre combina com o nosso pessoal. Não se aprende essa combinação na escola. Tampouco há faculdade que ministre cursos neste sentido. Quantos de nós não estamos cercados de mestre e doutores que, no cotidiano tem praticas de vidas semelhantes ao homem da idade da pedra? A grande maioria deles só sabe ganhar. Quando a vida lhes faz perder se desesperam, ficam no chão.

Dá-nos a impressão, grosso modo, que a modernidade caminha para o caos. O caos humano propriamente dito! O homem, coitado, cercado de parafernálias digitais e de tecnologias de ultima geração (até a próxima) não tem dado conta de si mesmo e continua perdido. A ele coube conviver com um mundo globalizado, inclusive nos sentimentos. O pior disto é que nós, modernos, nos deparamos com a solidão em dobro, pois vivemos constantemente ligados nas redes sociais, mas não construímos afetividade. Somos incompetentes para chegar ao outro ao vivo e em cores. Vivemos ilhados de equipamentos tecnológicos por todos os lados. Dominamos tudo. Os mais jovens nos deixam boquiabertos com suas capacidades de domínio dessas máquinas e, ao mesmo tempo, com suas quase nenhuma capacidade de gerir a vida e construir o afeto. Namora-se por web cam, conversa-se em redes sociais. O celular é quem diz tudo, é quem guarda tudo, é quem liga a todos. As relações de trabalho foram alteradas por conta das redes sociais, pois concomitante ao trabalho se responde e-mails, se bate papo na internet, marca-se encontros, etc. Nesse meio, as pessoas parecem que ficaram sem privacidade. Pra se defenderem um pouco disto, a mentira tomou outras características nas relações interpessoais da maioria dos nossos jovens. Criam vários tipos de identidades: Links, Nicks, Contas diferentes de e-mails, etc., tudo para se esconderem um pouco ou talvez manter acesa a característica humana natural, crua, livre de tutelas. Há o lado bom (olha ele aí) que é aquele em que as relações mantidas na base do jogo, do engano, da mentira, ficam mais difíceis de serem mantidas por longo tempo!

Deste modo, a contradição existencial do nosso tempo ficou bem mais exposta. O homem moderno perdeu sua privacidade em tudo por conta do contexto estabelecido, em função do capitalismo selvagem e do avanço tecnológico. Resta a cada pessoa em particular saber-se por dentro; conhecer-se por dentro, para não correr o risco de se perder por fora. A nossa civilização talvez possa ter essa característica: a que mais ganhou por fora e a que mais perdeu por dentro.
 
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Nesse ano que se aproxima é bom que se faça um "balanço" da vida. Isto é meio didático, mas pode ajudar, pois sabemos que na realidade concreta a vida acontece em tempos diferentes dos nossos. Feliz 2012.