Hoje pela manhã ao deixar o escritório biblioteca da chácara para ir tomar o café da manhã na casa que fica do outro lado do jardim, notei que um sabiázinho havia caído do ninho instalado num daqueles ipês do gramado. Era evidente que não podia ainda voar. Debateu-se no chão, equilibrou-se nas duas patinhas e ensaiou uma corrida entre os canteiros. Graças a Deus, os gatos da casa estavam dormindo no quarto da senhora dona deles. Pensei em me aproximar. Mas como poderia ajudar? Mal dei dois passos e vi dois sabiás adultos que se aproximaram com cara de poucos amigos como a dizer a mim, inocente improvável predador:
-Se chegar mais perto te atacamos!
E eu fiquei ali olhando prestimoso o pequeno sabiá ser bicado e incentivado a subir num arbusto. E ele não conseguia. E os dois (provavelmente pai e mãe), voavam e voltavam até que o pequeno conseguiu sair do gramado e subir num galho de murta rente ao chão. Como lá parecia mais seguro eu os deixei pensando na insegurança da vida e na existência de um Espírito que é fonte daquele amor solidário ali manifestado e na beleza daquela vida mesmo frágil.
Na sala de jantar, ligado ao jornal regional da EPTV, a manchete sobre um bebê agredido pelo próprio pai, hospitalizado com hematomas em todo o corpo e que morreu no hospital. Como explicar essa loucura sádica de um ser humano? Será que ele não vê os passarinhos cuidando de seus filhotes?
É Natal! Ressoam para mim as palavras de Simone Weil, espiritual e filósofa francesa morta em 1943. Para ela, o Natal significa “Deus abandonou Deus. Deus se esvaziou”.
Há tempos venho me dando conta de que a visão que todas as religiões têm de Deus Todo-Poderoso é relativizada pela Bíblia e pela vida. Na vida do dia a dia muita coisa acontece que não é vontade de Deus e quando as pessoas pensam que Deus pode tudo, se perguntam: por que Ele permite o sofrimento dos inocentes e tanta injustiça e crueldade sobre a face da terra. Do outro lado, um dos raros textos bíblicos que sei de cor; “Cristo não fez questão de sua igualdade ao Pai, mas esvaziou-se de si mesmo e assumiu a condição humana” (Carta aos Filipenses, 2, 5-6). Isso que em grego o apóstolo Paulo chamou de Kenosis e o latim traduziu por Exinanitio, em português, a palavra mais certa é e s v a z i a m e n t o. Deus esvaziado da sua divindade, ou do que os homens consideram como sendo atributos da divindade. É a partir daí que podemos descobrir o divino no próprio humano, primeiramente no outro e a partir do outro em nós mesmos, assim como manifestando-se nos gatos e cachorros dorminhocos da minha casa ante o apuro da família sabiá e em todo o universo.
É Natal! Será que um Deus esvaziado de sua divindade e sem poder conseguirá assumir a humanidade crente ou atéia e nos ajudar a descobrir que a divindade possível para todos os seres vivos é o amor?
-Se chegar mais perto te atacamos!
E eu fiquei ali olhando prestimoso o pequeno sabiá ser bicado e incentivado a subir num arbusto. E ele não conseguia. E os dois (provavelmente pai e mãe), voavam e voltavam até que o pequeno conseguiu sair do gramado e subir num galho de murta rente ao chão. Como lá parecia mais seguro eu os deixei pensando na insegurança da vida e na existência de um Espírito que é fonte daquele amor solidário ali manifestado e na beleza daquela vida mesmo frágil.
Na sala de jantar, ligado ao jornal regional da EPTV, a manchete sobre um bebê agredido pelo próprio pai, hospitalizado com hematomas em todo o corpo e que morreu no hospital. Como explicar essa loucura sádica de um ser humano? Será que ele não vê os passarinhos cuidando de seus filhotes?
É Natal! Ressoam para mim as palavras de Simone Weil, espiritual e filósofa francesa morta em 1943. Para ela, o Natal significa “Deus abandonou Deus. Deus se esvaziou”.
Há tempos venho me dando conta de que a visão que todas as religiões têm de Deus Todo-Poderoso é relativizada pela Bíblia e pela vida. Na vida do dia a dia muita coisa acontece que não é vontade de Deus e quando as pessoas pensam que Deus pode tudo, se perguntam: por que Ele permite o sofrimento dos inocentes e tanta injustiça e crueldade sobre a face da terra. Do outro lado, um dos raros textos bíblicos que sei de cor; “Cristo não fez questão de sua igualdade ao Pai, mas esvaziou-se de si mesmo e assumiu a condição humana” (Carta aos Filipenses, 2, 5-6). Isso que em grego o apóstolo Paulo chamou de Kenosis e o latim traduziu por Exinanitio, em português, a palavra mais certa é e s v a z i a m e n t o. Deus esvaziado da sua divindade, ou do que os homens consideram como sendo atributos da divindade. É a partir daí que podemos descobrir o divino no próprio humano, primeiramente no outro e a partir do outro em nós mesmos, assim como manifestando-se nos gatos e cachorros dorminhocos da minha casa ante o apuro da família sabiá e em todo o universo.
É Natal! Será que um Deus esvaziado de sua divindade e sem poder conseguirá assumir a humanidade crente ou atéia e nos ajudar a descobrir que a divindade possível para todos os seres vivos é o amor?