O homem mais feliz
Há muitos anos, num país distante, havia um rei bom e justo. Seu reino, por isso, vivia em paz e ele era amado pelos súditos.
Lá um dia, ninguém soube por quê, o rei foi acometido de inexplicável tristeza. Fechou-se num mutismo de causar dó. Nem queria alimentar-se.
Mobilizaram-se os sábios para devolver-lhe a alegria. Tentaram tudo. Em vão. Por fim, trazido para observá-lo, um velho a quem se atribuíam especiais dotes de conhecimento, sentenciou: "O rei voltará a sorrir quando vestir a camisa do homem mais feliz do reino".
À pressa, foram despachados emissários para os extremos do reino e até para reinos vizinhos. Mas nenhum conseguiu encontrar o homem. Ele parecia simplesmente não existir.
Desanimados, voltavam alguns para casa, quando ouviram um canto que parecia expressar felicidade. Era um lenhador de torso nu, suado da cabeça aos pés, que manejava o machado com destreza. Sem parar de cantar, iluminava o rosto com belo sorriso. Foram perguntar-lhe se era feliz e quanto. A resposta deixou-os encantados: "Em todo o reino não há ninguém mais feliz que eu".
Chegara ao fim a procura. Contaram o que os trouxera ali e pediram-lhe emprestada uma camisa. Um pouco sem jeito, mas sem deixar de sorrir, o homem disse: "Que pena! Eu não tenho camisa".
A conhecida historinha veio-me à lembrança ao ouvir de um amigo, a quem perguntei se ia bem: "Vou, graças a Deus. Setenta anos, com saúde e trabalhando. Não fiquei rico, mas posso tomar minha cervejinha. Que vou querer mais?".
Para economistas a afirmação soa como heresia. Dirão: "Conversa de perdedor. Gente assim não progride. Progresso nasce da ambição, da conquista do que ainda não se tem".
No mundo dos negócios, é assim que funciona. Progredir é ganhar dinheiro, tornar-se conhecido e admirado, frequentar altas rodas, ostentar poder. Não há quem não lute para adquirir mais do que precisa.
O estritamente necessário não satisfaz. No fundo do coração carregamos a ânsia de acumular. De juntar mais. Nada para nós é o bastante. Há sempre uma sensação de incompletude, que nos faz sofrer. Não um sofrimento qualquer, mas daqueles de tirar o sono e tornar sem graça a vida.
O desejo é um saco sem fundo. Suficiente para nós é o que ainda está no sonho, nunca o que temos na mão. Vivemos em permanente disputa. Hoje, competição feroz é virtude. Quem não a aceita é covarde.
São Paulo ensina: “Não trouxemos nada para este mundo, como também dele nada podemos levar. Então, tendo o que comer e com que nos vestir, fiquemos contentes” (1Tm 6, 7-8). E conclui de forma lapidar: “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro” (id, 6,10).