Comecei minutos atrás um "tratado" sobre o sentimento da solidão, e por graças a um erro inesperado acabei apagando tudo o que tinha escrito. Com certeza foi providencial, para mim e para quem por acaso for ler este texto.
Dizia eu que solidão não é a falta do outro(os) e sim de nós mesmos. Nos sentimos só quando nos abandonamos, deixando que toda a negatividade ao redor nos contamine como um fedor que vem de algum lugar mas não sabemos de onde. Sentir-se só não é a maior dor, porém manter-se nisso sim. Um monge tibetano passa meses numa montanha sozinho, e não se sente só, sabe porque? Ele não tem que pagar contas, educar filhos, planejar a semana de trabalho, enfim viver no louco mundo das pessoas "normais" que trabalham, estudam, e dedicam-se aos outros. Ele permanece com Ele sem intervalos nem distrações.
Passamos o tempo todo fazendo coisas para os outros. Se você trabalha como empregado, passa o tempo todo fazendo coisas para seus superiores. Se vc é um empresário, descabela-se para agradar seus clientes. Quando somos estudantes, passamos nossa existência tentando provar que somos capazes de passar de ano e subir na escada academica . Permanecemos nessa dependência eterna para conseguir alguns agrados, premios, ou em última instância um salário.
Nascemos sós, mesmo que com a ajuda de uma parteira ou obstetra, e morreremos assim, mesmo com 100 pessoas ao redor de nosso leito de morte. Solidão, portanto, só cabe quando nós nos abandonamos, já que nosso destino inicial e final é estar só. Chega a ser óbvio, isto porque somos Únicos e indivisíveis.
A solidão corrói nossa auto-estima e nos empurra para a beira do precipício, pintando tudo com tons de cinza. As poucas cores que ainda persistem ficam pálidas e o sabor do que era delicioso fica sem graça. Tira-nos o tesão do que era divertido, e nos lança na armadilha de querer simplesmente descer do onibus, que na frente tinha escrito como destino: ALEGRIA-VIA FELICIDADE.
Sentir-só é temporário, porém a dimensão dessa dor se mostra eterna e fria, como passar fome ou frio sem ter o que comer nem o que vestir. Por mais que nos digam que tudo vai passar, nossa consciência não capta a noção insignificante desse momento, se levarmos em conta nossa eternidade como alma.
Sentir-se só é uma questão numérica, onde o UM é mais importante e vital que qualquer outro algarismo, seja ele dois, cinco ou mil. A única saída para a solidão é entregar-se ao UM integralmente e dar de ombros para as traições e vicissitudes de qualquer outro que não seja o UM.