O NATAL MAIS FELIZ DA MINHA INFÂNCIA

Reedição

Tinha lá eu meus oito anos. E como toda criança, acreditava fielmente no Papai Noel. Meu maior desejo era conhecê-lo pessoalmente. Um dia, isso haveria de se realizar, acreditava.

Entretanto, uma coisa eu não entendia: porque o Papai Noel nunca presenteava ao Eduardo, um amiguinho meu, filho de uma família pobre, morador do final da rua. Perguntei, um dia, à minha mãe e ela me explicou que era pelo fato da casa do Eduardo ficar longe. Assim, quando o Papai Noel lá chegava, certamente o saco dos brinquedos já se esvaziara. Aquilo me deixou muito triste. Não me conformei. Afinal, o Edu era o meu melhor amigo. E havia nele um coraçãozinho maravilhoso. Lembro que em vários natais, ele sempre vinha cedo à minha casa, só para ver o que eu ganhara do Papai Noel. E, ao invés de cobiçar os meus brinquedos, ficava era super feliz como se fora ele quem tivera sido presenteado. Quando eu lhe perguntava pelo seu presente ele, humildemente, me respondia: "Papai Noel ainda não achou a minha casa".

Dessa vez, porém, no Natal que se aproximava, isso não mais aconteceria. Após aquele esclarecimento da minha mãe, o meu amiguinho não ficaria mais sem o seu presente. Fui procurá-lo e propus a ele colocar na véspera do Grande Dia o seu sapatinho ao lado do meu, lá em casa. E ele, de pronto, aceitou a idéia. Recordo que na noite que antecedeu aquele Natal, antes de me deitar, orei ao Papai do Céu pedindo duas coisas: uma, era me encontrar com o Bom Velhinho e dar-lhe um forte abraço; a outra, era ver um lindo presente sobre o sapatinho do Edu.. E procurei ficar acordado à noite inteira só para flagrar o Papai Noel entrando pela janela do meu quarto que, estrategicamente, ficara aberta (Tempos tranquilos aqueles!). Quando o sono vinha, eu me levantava para não dormir. Às vezes não conseguia, o sono me pegava e até chegava a sonhar com a cena que esperava ver. Felizmente logo eu despertava e aí fazia o impossível para não adormecer de novo. Foi difícil, principalmente para uma criatura de pouca idade, como era o meu caso. E olha que fazia um frio danado com aquela janela entreaberta. Contudo, valeu esse sacrifício. Porque não é que consegui? Mesmo morrendo de sonolência, consegui o meu objetivo. O dia já estava amanhecendo quando, sorrateiramente, ele chegou. Não entrou pela janela, mas pela porta; não estava com o seu uniforme e nem possuía a barba branca. A principio fiquei frustrado. Aquele não era o Papai Noel que eu aguardava, mas sim o meu próprio pai. Todavia, pôs o meu presente e, também, o do meu amigo sobre nossos sapatos. Por um momento, fiquei muito chateado, pensativo. Depois, no entanto, fui acometido por uma grande alegria. Refleti e concluí que o Papai Noel, gente, poderia ser muito bem - por que não? - aquele ali: o meu próprio pai! O seu coração era tão grande quanto o do Bom Velhinho. E por incrível que pareça, a bela fantasia natalina ali não se desfez. Pelo contrário: tornou-se ainda mais encantadora. Sussurrei para mim, mesmo: "Sou filho do Papai Noel, que bacana!" Esperei que ele saísse do quarto, enquanto eu fingia dormir para não decepcioná-lo. Pouco depois, levantei-me da cama, observei rápido os presentes e sair em disparada quarto a fora ao encontro do meu pai para abraçá-lo e dizer: “Feliz Natal, meu Papai Noel!”.

Foi esse, sem dúvida, o dia de Natal mais feliz em toda a minha infância.