VIAJANDO PELA VIDA

VIAJANDO PELA VIDA

Estou por aqui há pouco mais de 60 anos. Quando cheguei tínhamos relações pessoais limitadas, causadas pela dificuldade de locomoção e meios insuficientes de comunicação. Éramos (in)felizes com nossas restrições e sonhávamos com o impossível ir e vir, imaginando estar em outros mundos, diferentes do nosso que, vez por outra, estavam a poucos quilômetros de distância nos dias de hoje, mas a distâncias interplanetárias à época.

Lembro perfeitamente minhas idas a Central Telefônica, acompanhar minha mãe, para fazer um interurbano a um parente que morava em outra cidade, não muito distante, e ficávamos por horas a fio esperando pelo “completar a ligação”, coisa que as vezes não ocorria e frustrava aquele contato tão importante, mas não insuperável, voltávamos no dia seguinte para outra tentativa.

Uma viagem a outra cidade, de ônibus ou trem, era uma grande aventura que necessitava de planejamento prévio, logística apurada e contatos prévios via “correio”, para preparar o parente para nossa chegada. O visitado precisava fornecer cama, mesa e banho em sua morada e nem sempre o local fornecia condições para suportar a demanda. Ficar em hotel? Nem pensar, seja pela falta de dinheiro, seja pela ofensa ao visitado. Viajar de carro? Impossível, eu pelo menos não me lembro de conhecer algum parente ou amigo que tivesse um automóvel. Sem contar, que mesmo não viajando de carro, não ficando em hotel, nem comendo fora era necessário guardar um bom dinheirinho para a aventura, não havia cartão de crédito. Malas e pacotes com lembranças, enviados por boa parte da família, faziam da viagem uma maratona com peso de 1 tonelada e ocupavam bagageiro externo, interno e colos disponíveis.

Hoje,os meios de comunicação disponíveis permitem-nos estar em contato a qualquer hora do dia ou da noite com qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo em segundos. As viagens são constantes e acessíveis a uma grande parcela da população. Vamos e voltamos com facilidade, vencendo distâncias intransponíveis de outrora, em questão de horas. Há formas de hospedagem e alimentação para todos os bolsos e gostos. Parentes não mandam presentes, no máximo lembranças.

Com isso, conseguimos estar juntos mais amiúde, inclusive aumentando sobremaneira nosso círculo de amizades e relacionamentos.

Talvez esteja aí a razão dos problemas atuais, a falta de dificuldades e o excesso de contato, acaba minando o viver. Não há o que contar, já foi contado; não há o que ver, já foi visto; não há o que dizer, já foi dito.

Estamos agora, procurando mais novas formas de viver e viver mais, que tragam a (in)felicidade. É uma fase de transição, em que os ânimos se exacerbam em busca ainda não se sabe bem do que, e nunca se saberá, porque o futuro é ainda imprevisível, não estando disponível a consultas. Por enquanto, seja lá o que Deus quiser.

FELIZ 2012.......

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 25/12/2011
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