No Princípio era o Verbo
 
      Lê-se, no prólogo do Evangelho segundo São João, que “no princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e Deus era o Verbo...”, antes de todos os natais, muito antes de mim, antes de todos nós, antes dos nossos mais ilustres eloquentes antepassados e, logicamente, antes dessas e das suas palavras, caro leitor. Muito depois, a palavra também se consagra como a primeira e a maior criatividade da cultura humana. Foi a partir de então que o homem iniciou a sua evolução de “homo sapiens”, a descobrir, na palavra, sua universal tendência à religiosidade na Palavra com que Deus se manifestou aos homens. E, para que essa Palavra se tornasse mais compreensível aos homens acontece o Natal; o Pai, que “no princípio era o Verbo”, envia seu dileto Filho para que o “Verbo” se fizesse carne e habitasse entre nós. Por esta razão, Deus, que preexistia antes de tudo, nunca nasceu, mas assumiu o corpo humano e, respeitando a cultura da linguagem e dela até as vicissitudes, deveio Palavra revelada a todos os homens e mulheres de boa vontade.
 
       A circunstância do Natal tem muito a ver com a História da Palavra. Como também quando a Palavra encarnada escolheu, dentre rudes homens, pescadores, apóstolos da Palavra, determinando-lhes o insistente imperativo evangélico: “Ide e ensinai...” E como ensinar, se o universo do discurso daqueles incultos homens se limitava às marés, às ondas do mar, aos peixes, ao barco, à rede e à pesca? Desce, além do Filho, em Pentecostes, o Paráclito para lhes soprar as adequadas Palavras do anúncio da Palavra.

       O mundo atual se caracteriza, através dos mais sofisticados meios de comunicação, como o período da velocidade da palavra, como o da velocidade do saber, especialmente o do conhecimento tecnológico.  E, nessa corrida do tempo e dos homens, as palavras ganham desconhecidos significados. Contudo, não inovam, não alteram uma só letra das palavras ditas por Jesus que nos revelou a mensagem do Amor do seu “ide e ensinai”. E desse modo, Ele poderá nascer e renascer nos nossos corações, em cada Natal, pregando o ide e aprendei a Palavra do Amor aos homens e mulheres de boa vontade, que só serão bem-aventurados na proporção em que forem uma sociedade do amor humano proveniente do amor divino.