Papai Noel não se empresta
Em dias comemorativos a cidade olhava para o céu. A esquadrilha da fumaça fazia evoluções, que sobravam em desenhos aplaudidos, que desapareciam em seguida, determinando uma nova espera, outro dia a ser comemorado, a fazer com que a cidade, como devoto o faz, olhasse para o céu.
Comemorações aglutinam pessoas que, como se ensaiado, repetem gestos rituais: fala-se de coelhos, de peixe, de presentes, reportam-se a Judas, aos Reis Magos, a Noel...
Agrupam-se membros da família com um ou outro que não tem com quem se agrupar; em manadas, rebanhos, matilhas, os mais velhos, ou os mais fracos ficam para trás; talvez um outro coletivo solidário venha o agregar a seu bando, mero espírito comemorativo.
A aqueles desvencilhados não é perguntado se querem ver céu todo escrito, todo desenhado, apenas o colocam olhando para o céu, transformando a esquadrilha da fumaça na ação redentora do grupo agregador.
Deslocado, olha para cima e não sabe o nome do piloto/escritor, olha para o lado e não sabe o nome da criança encantada com as evoluções. Peru é servido em fatias, o pernil vem manchado à Califórnia, sorvete também mancha o tapete e todos riem, e ele não sabe o nome de ninguém.
Não tem com quem recordar fatos passados, não tem ali a quem amar, amar as pessoas que amou a vida toda; fez-se um figurante num grande parque de diversão, que não o diverte, que não o conhece.
Para o familiarizar-se aos presentes, dão-lhe um par de meias, gesto extremamente gentil, que dá veracidade à situação, só não dá autenticidade às afeições, não partiu de uma pessoa a quem amou a vida toda.
Queria, de verdade, ver o céu rabiscado como traquinagens de seus amados moleques e moleca