NATAL
Nesta época é impossível não falar nem pensar em Natal. O comércio espera durante o ano inteiro para “tirar a barriga da miséria”. Este é o melhor tempo, junto com o dia das mães, onde os presentes são vendidos aos borbotões. Compram aqueles que podem, e ou outros se endividam, se empenham, para fazer parte da “tchurma” e não ser chamado de alienígena. Tornou-se obrigação, é de Lei, presentear a todo mundo, não só os mais chegados, como parentes e amigos. Até os entregadores de jornais, revistas, carteiros, lixeiros, etc., que são pagos para fazerem este serviço, querem “sua caixinha”.
Eu me pergunto, além deste, do comércio, quantos natais há? Certamente, o primeiro que me vem à cabeça é o das crianças. Natal de sonho, de desejo de algo melhor ou que ainda não tenha; nem que seja o amor. A ilusão de Papai Noel, o bom velhinho que satisfaz no que os pais não podem. Que não discrimina ninguém. Trabalha o ano inteiro fabricando brinquedos imaginários que preencherão algum vazio nos corações infantis. Este acredito que seja feliz. Há muito tempo eu o vivi. Não éramos ricos; meu pai conviveu com a falência diversas vezes. Mas, no dia 24 de dezembro a expectativa tomava conta de nós. Meu lugar na mesa era de costas para a janela da sala e, neste dia, eu sempre queria trocar com alguém, para que o Papai Noel não me desse um susto. Ia dormir cedo; nem queria ouvir seus passos. Na manhã seguinte não havia decepção. Aos pés da cama, tanto da minha quanto da minha irmã, havia embrulhos. Uns grandes e leves, outros pequenos e pesados. Pelo menos uns três para cada uma. Roupas e sapatos eram acrescidos de lápis de cor e cadernos para desenhar; jogos e livros de história. Minha mãe era uma grande contadora de histórias. Chegava a inventar músicas e a produzir sons e vozes, de acordo com o enredo que nos lia. Memórias felizes que tornam meu Natal de hoje melancólico e triste.
Outra coisa que marca a comemoração da data são as comidas. Por que têm de ser tão coloridas e calóricas? Além destas duas coisas, os ingrediente, na maioria das vezes importados, são caríssimos. Por que a nossa ceia tem que ter peru, presunto, bacalhau, nozes, amêndoas, avelãs, castanhas portuguesas, cerejas, tâmaras. Como bebida, em vez de um refresco de manga ou maracujá, vinhos importados (dizem que são melhores do que os nacionais – velho complexo de vira-lata, como dizia o Nelson Rodrigues), ou pró-secos (o champanhe brasileiro, porque o francês tem domínio da designação, por causa do local, onde o verdadeiro é produzido).
A quarta coisa são as reuniões para celebrar o Natal. Temos que fazê-las no trabalho e com os amigos, em várias etapas porque os grupos são diversos. Deixamos a família para os dias 24 e 25. Temos que ter duas festas para conciliar os parentes do marido, num dia, e da mulher no outro. Para resolver o problema de comprar este montão de presentes, trocados em tanta comemoração, inventaram o amigo oculto. Colocam os nomes de todos num saquinho e você sorteia o que lhe cabe. Eu fico sempre torcendo para tirar o meu nome e aproveitar a data para adquirir o que realmente preciso e não ficar com presentes encalhados para o próximo Natal, torcendo para que as pessoas esqueçam o que tirei, e poder passá-los adiante, em outro amigo oculto.
Se dependesse de mim, no dia 30 de novembro, à meia-noite, iríamos à missa do galo, para celebrar o nascimento do Menino-Deus e, no dia seguinte, acordaríamos no dia primeiro de janeiro. Que maravilha se, neste Natal, meu desejo se realizasse.
Rio de Janeiro, 24 de dezembro de 2011.