De Amy a Adele, a musica mundial e seus mitos em 2011
Sobraram críticas quando Amy Winehouse trouxe o seu circo de vexames ao País em janeiro. A diva apareceu com os seios à mostra, esqueceu letras, coçou o nariz sugestivamente, cambaleou pelo palco. Mas por tudo que seu comportamento indicasse - e por mais que não lançasse um disco em cinco anos - era difícil imaginar o vácuo que sua morte, em julho, deixaria. 2011 foi o ano de Adele, a jovem e polpuda soul woman inglesa que arrasou nas paradas com Rolling in the Deep, e chega como uma pertinente substituta. Mas como deixa claro o disco póstumo Lioness: Hidden Treasures, lançado recentemente, ainda há espaço, no topo da Billboard, para uma cantora com a personalidade de Amy.
No mesmo dia em que a problemática diva despediu-se do Brasil, foi dado início ao segundo capítulo da era dos megafestivais brasileiros com o Summer Soul Festival (que volta no mês que vem com Florence + The Machine). E não faltaram motivos para investir em ingressos salgados de nomes de todos os cantos do espectro musical. Veteranos do Top 40, como Metallica e Pearl Jam, lideraram as grandes apresentações dos dinossauros.
Veteranos alternativos, como o Gang of Four e o Sonic Youth, que fez o que periga ser sua última apresentação, deram aulas de rock and roll moderno. Fora Beyoncé e Lady Gaga, toda a turma da Billboard passou por aqui. Katy Perry, Rihanna, Ke$ha, Jessie J, Britney Spears e Justin Bieber, que leva o prêmio da apresentação mais natural (com playback, sim, mas também com espaços para mostrar o seu talento vocal), atraíram legiões de adolescentes ao Morumbi e Anhembi com o dance pop que domina as paradas. Prince, Cee Lo Green e Jay-Z deram canos, assim como João Gilberto, que foi mais previsível e já desmarcou três vezes seus shows no Rio, em São Paulo e em Salvador.
No Brasil, foi o ano em que o hip hop saiu do gueto e mostrou que pode ser pop sem ter cara de mau. Criolo lançou o seu quase unânime "Nó na Orelha", e virou darling de crítica, colunas sociais e revistas descoladas. Emicida tocou no importante festival americano Coachella. E o eminente Rodrigo Ogi lançou o brilhante "Crônicas da Cidade Cinza", disco que supre em criatividade lírica o que lhe falta em polimento de produção. No Olimpo, ou melhor, no Pão de Açúcar de nossa tradicional MPB, Chico voltou à cena com mais um disco de canções densificadas e Gal modernizou-se com Recanto, álbum dirigido por Caetano, com viés eletrônico.
A influência do intimismo e suas diversas manifestações foi notável. De rimas reflexivas a produções soturnas, passando pela alta maré do soul amansado de Bon Iver e James Blake, e pelas ondas pacíficas do chillwave de Washed Out, um belo naco do que se ouviu de interessante teve um pé no confessional, o outro no lúgubre e mesmo nos momentos mais empolgantes, conquistou mais pela sutileza do que pela força.
O melhor exemplo disto é o excelente e corajoso Take Care, do rapper Drake. Sucesso de vendas, o álbum representa uma guinada no lirismo do hip hop comercial com letras que exprimem medos, dúvidas e ansiedades. A refinada produção isola os pensamentos de Drake ao centro do disco de uma maneira semelhante às múltiplas camadas de reverb usadas por produtores de chillwave como Toro Y Moi e Washed Out, ambos em voga em 2011.
Participa de Take Care o devidamente incensado cantor The Weeknd, que faz R&B melancólico, escuro e lançou a ótima mixtape House of Balloons este ano. ê curioso notar que o descendente e tristonho lamento Wicked Games, hit do Weeknd, tem a mesma progressão que Não Existe Amor em SP, de Criolo, sem dúvida a música nacional mais notável de 2011: marcos de um ano que ainda teve a solidão eletrônica de James Blake e o lirismo introspectivo de Panda Bear e de Bon Iver - este último considerado o melhor do ano pelo influente site Pitchfork.
Por mais que tenha um volume bem mais alto, a voz de Adele em Rolling in the Deep, o grande hit do ano, também ecoa o mesmo isolamento que abraça Blake e Bon Iver. Entre outros lançamentos que se relacionam, estão Space Is Only Noise, de Nicolas Jaar e Dedication, de Zomby.
No final das contas dosi pontos serãos os grandes deste ano, Amy partiu e Adele surgiu, não que uma se compare a outra, mas ambas são inegualaveis nos vocais.
No mesmo dia em que a problemática diva despediu-se do Brasil, foi dado início ao segundo capítulo da era dos megafestivais brasileiros com o Summer Soul Festival (que volta no mês que vem com Florence + The Machine). E não faltaram motivos para investir em ingressos salgados de nomes de todos os cantos do espectro musical. Veteranos do Top 40, como Metallica e Pearl Jam, lideraram as grandes apresentações dos dinossauros.
Veteranos alternativos, como o Gang of Four e o Sonic Youth, que fez o que periga ser sua última apresentação, deram aulas de rock and roll moderno. Fora Beyoncé e Lady Gaga, toda a turma da Billboard passou por aqui. Katy Perry, Rihanna, Ke$ha, Jessie J, Britney Spears e Justin Bieber, que leva o prêmio da apresentação mais natural (com playback, sim, mas também com espaços para mostrar o seu talento vocal), atraíram legiões de adolescentes ao Morumbi e Anhembi com o dance pop que domina as paradas. Prince, Cee Lo Green e Jay-Z deram canos, assim como João Gilberto, que foi mais previsível e já desmarcou três vezes seus shows no Rio, em São Paulo e em Salvador.
No Brasil, foi o ano em que o hip hop saiu do gueto e mostrou que pode ser pop sem ter cara de mau. Criolo lançou o seu quase unânime "Nó na Orelha", e virou darling de crítica, colunas sociais e revistas descoladas. Emicida tocou no importante festival americano Coachella. E o eminente Rodrigo Ogi lançou o brilhante "Crônicas da Cidade Cinza", disco que supre em criatividade lírica o que lhe falta em polimento de produção. No Olimpo, ou melhor, no Pão de Açúcar de nossa tradicional MPB, Chico voltou à cena com mais um disco de canções densificadas e Gal modernizou-se com Recanto, álbum dirigido por Caetano, com viés eletrônico.
A influência do intimismo e suas diversas manifestações foi notável. De rimas reflexivas a produções soturnas, passando pela alta maré do soul amansado de Bon Iver e James Blake, e pelas ondas pacíficas do chillwave de Washed Out, um belo naco do que se ouviu de interessante teve um pé no confessional, o outro no lúgubre e mesmo nos momentos mais empolgantes, conquistou mais pela sutileza do que pela força.
O melhor exemplo disto é o excelente e corajoso Take Care, do rapper Drake. Sucesso de vendas, o álbum representa uma guinada no lirismo do hip hop comercial com letras que exprimem medos, dúvidas e ansiedades. A refinada produção isola os pensamentos de Drake ao centro do disco de uma maneira semelhante às múltiplas camadas de reverb usadas por produtores de chillwave como Toro Y Moi e Washed Out, ambos em voga em 2011.
Participa de Take Care o devidamente incensado cantor The Weeknd, que faz R&B melancólico, escuro e lançou a ótima mixtape House of Balloons este ano. ê curioso notar que o descendente e tristonho lamento Wicked Games, hit do Weeknd, tem a mesma progressão que Não Existe Amor em SP, de Criolo, sem dúvida a música nacional mais notável de 2011: marcos de um ano que ainda teve a solidão eletrônica de James Blake e o lirismo introspectivo de Panda Bear e de Bon Iver - este último considerado o melhor do ano pelo influente site Pitchfork.
Por mais que tenha um volume bem mais alto, a voz de Adele em Rolling in the Deep, o grande hit do ano, também ecoa o mesmo isolamento que abraça Blake e Bon Iver. Entre outros lançamentos que se relacionam, estão Space Is Only Noise, de Nicolas Jaar e Dedication, de Zomby.
No final das contas dosi pontos serãos os grandes deste ano, Amy partiu e Adele surgiu, não que uma se compare a outra, mas ambas são inegualaveis nos vocais.