Eu acredito em Papai Noel

De repente o telefone toca:

- Alô. Jader?

- Sim.

- Jader, é a Roberta.

- Diga, Roberta!

- Você perdeu sua carteira na Lapa?

- Perdi.

- Então... encontraram sua carteira, acharam um cartão [de visitas] meu dentro dela, e me ligaram para te encontrar. Anota aí o número do cara. O nome dele é Mauro.

Assim começou minha semana de Natal. Era uma segunda-feira de manhã. Cerca de 72 horas antes havia perdido todos os meus documentos e cartões após sair da "festa da firma", no Circo Voador. Quem já perdeu um documento sabe o transtorno que é: entre ir à delegacia registrar ocorrência e ligar para o banco para cancelar o cartão, reina a preocupação de que alguém pode estar naquele exato momento se passando por você. Perder a identidade é uma metáfora brutal do estado em que você se sente em momentos como este.

Mas os documentos foram parar na mão de uma jovem, a filha do Mauro. Que encaminhou ao pai. Que ligou para Roberta. E a boa nova, enfim, chegou até mim. CPF, RG, Título de Eleitor, Cartão de Débito, Cartão de Loja. Tudo de volta. Quando as esperanças já tinham ido embora. Quando eu já tinha chorado. Já tinha questionado tudo. Por conta de uma simples carteira.

E eis que apareceu o Mauro. Quem é Mauro? Um engenheiro que trabalha numa oficina de botes em uma esquina movimentada no Centro do Rio. Simples, um pouco de graxa aqui e ali, surge com a carteira nas mãos e sedento por contar suas histórias. Sim, é um homem de histórias. Daquelas comuns que de tão comuns são extraordinárias.

Mauro é um super-herói à brasileira. Conta de quando devolveu os pertences de outras doze pessoas, usando a mesma tática que utilizou para me encontrar; conta dos quatro garotos afundados no álcool que tirou da rua, mesmo "sem trabalhar com o social"; conta das lições que passou para a filha sobre honestidade e o sentido de se colocar no lugar do outro; conta até de uma fila de hospital que furou graças às suas despretensiosas benfeitorias. Um herói à brasileira, repito.

Desta vez, foi meu bom velhinho. Dele, ganhei dois presentes. O primeiro e mais óbvio, a carteira (minha Identidade de volta!). O segundo é um pouco mais subjetivo. Pode ser expresso na frase que Mauro me disse ao encerrar nossa breve conversa:

"Nós nascemos para fazer o que? Para fazer o bem e nada mais".

Podem acreditar, ainda existem homens. A bondade ainda persiste. A luta dura não flexiona o caráter. Pode acreditar, Papai Noel existe!

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