Dias de Chuva
Tudo se torna prata. A natureza busca sua roupa que estava guardada no baú do tempo e sai vaidosa. Coloca uns adornos; aqui um colar feito de um riachinho qualquer formado recente, acolá uns brinquinhos de pequenas gotículas que reluzem quando o sol momentaneamente rebrilha mostrando o enfeite sem jaça. Um cinza azulado das nuvens nos reveste em momentos de recolhimento e quietude enquanto a terra se banha com renovada vida. Sempre amei esses momentos mágicos que a cada ano se repetem nos períodos chuvosos trazendo a certeza da continuidade de vida para o próximo ano. Mas existem os contrastes em que o homem se vê em conflito com a natureza quando as casas simples desabam ceifando vidas, desmoronando esperanças. Fico pensando em nosso país com dimensões continentais e seus filhos em maioria sem vêm obrigados a viverem espremidos nas encostas como se não tivessem o direito de habitarem com dignidade em área segura, como se fossem invasores em terra estrangeira. Mais que triste fico às vezes com vergonha de ser brasileiro, de ser de certo modo conivente com esse eterno estado de coisas. Então o gostoso do tempo bom dói na consciência quando me sinto aquecido e confortável dentro de minha casa e me lembro de nossos irmãos lutando no meio da lama. O sistema é injusto, mais que injusto é maldito. A corrupção que não dá tréguas leva o orgulho e a alma de todos. O que fazer? Revoluções só trocam os ladrões, cultura a longo prazo? Seria um dos caminhos, mas os políticos a deformam, pois ela lhes enfraqueceria quando as massas criassem consciência de seus direitos. Talvez um pouco de terrorismo em cima dos políticos os refrearia em suas patifarias. O problema do terrorismo é que quando começa parece não ter fim e a vertente muda e começam a explodir o povo. Mas agora como um refrigério olho pela janela e a chuva retorna mansa com sua música e os pingos bailando em minha vidraça. Ela indiferente do que somos ou estamos segue seu curso de vida e poesia...